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“Arquitetura da Destruição”, de Peter Cohen.

Undergangens ArkitekturDocumentário de 1989 que apresenta como valores, idéias, conceitos e teorias foram encadeados e tomados de forma cada vez mais radical até resultar no movimento Nazista e no sonho de dominação, purificação e embelezamento do mundo pelo Império Alemão.
Peter Cohen expôs em 1989, no seu documentário “Arquitetura da Destruição”, o resultado de uma pesquisa que tomou 7 anos de sua vida: diferentemente da abordagem dada ao tema até então, que se resumia em buscar o impacto e estupefação fáceis nas platéias ao estampar a tela com cenas de extermínio e desgraça promovidas pelo regime Nazista, Cohen estava mais interessado em promover o seu alerta de forma mais inteligente, sutil e profunda, revelando todo o arcabouço de idéias e suposições sobre o mundo, o seu estado de então e o seu futuro, bem como os artifícios utilizados pelo governo alemão para propagar sua idéias e angariar todo o apoio de sua população para torná-las realidade. A epifania de Hitler diante de “Rienzi” de Wagner, sua obssessão com a estética perfeita das artes greco-romanas, sua admiração pelo regime de governo do Império Romano, a sua predileção pela arquitetura faraônica são todos expostos como fontes de inspiração para a formulação e desenvolvimento do regime e ideais nazistas, bem como serviram de instrumentos para sua sustentação e contínua manutenção – sim, porque a arte, a propaganda e a ciência foram utilizadas, cada uma em seus mecanismos mais dinâmicos – exposições em galerias, exibições de filmes, comícios e reuniões – como veículos de propagação dos ideais nazistas, afim de, ao mesmo tempo, legitimar o pensamento Nazista e difamar tudo o que não se enquadrava em seus ideais utópicos. Esse enraizamento do Nazismo com certos preceitos estéticos-artísticos não foi por um mero acaso: segundo o documentário, muitos dos maiores artífices do movimento tinham inclinações artísticas, ou mesmo eram artistas frustrados. O próprio Hitler, que fora recusado na Academia de Viena como pintor, dava vazão à suas ilusões artísticas ao desenhar, planejar e arquitetar – ou ao menos delinear as bases – de grande parte da estética do movimento, de seus eventos colossais, de sua arquitetura megalômana e de sua propaganda.
Assim, o longa-metragem documental de Peter Cohen não causa impacto pelo sensacionalismo mais preguiçoso, pela exploração óbvia e previsível de um episódio histórico envergonhante, mas sim por esclarecer sua gênese de forma profunda, jogando luz sobre aspectos obscuros e muito pouco discutidos, divulgados e escrutinados. É através de sua investigação detalhada, tanto sobre ilusões, conceitos e métodos de Hitler e seus homens de confiança quanto do próprio movimento Nazista e o seu “corpo do povo” – o ariano, claro – que Peter Cohen consegue nos alertar para o perigo que representam conceitos radicais do que é esteticamente aceitável, ideais de beleza levados ao extremo, subversão de discursos integrados em movimentos artísticos e a abordagem pinçada de afirmações científicas. Hitler era realmente um homem inteligente, mas a sua inteligência era, talvez, uma das mais burras que pode ter existido: uma inteligência dissociada de qualquer noção de humanidade e de entendimento das diferenças em detrimento do sonho de evolução para um mundo estático, preso em moldes idealizados de beleza e assepsia – uma idéia tão doentia que a contradição mais básica, a de que a evolução sem a existência da diferença não é evolução, mas meramente um engessamento do desenvolvimento humano, foi completamente ignorada.