Nesta penúltima temporada de Lost – é bom nem pensar que depois de 2010, tudo acabou – os espectadores do seriado tiveram as dúvidas sobre a Iniciativa Dharma solucionadas de um modo definitivamente genial, com todo o projeto científico sendo trazido à tona como principal evento e cenário deste ano da série. Mas isso só foi possível graças a complexa dinâmica que os roteiristas desenvolveram para esta temporada: a noção de tempo foi o elemento chave para que todos os acontecimentos tomassem lugar, para que as relações entre eles fosse evidenciada e para que os efeitos e consequências desencadeados fossem delineados. Tanto o passado, quanto o presente e o futuro deixaram de ter suas definições mais usuais para ganhar novo status e função e um intrincadíssimo ballet que alterou, definiu e reafirmou a história da ilha e de seus habitantes. Os dois únicos acontecimentos que deixam o público sem saber o que pensar da próxima temporada são justamente os que fecham este quinto ano da série: o evento ocorrido no “passado” – aspas necessárias devido ao fato de que ele não é passado para os agentes do evento, bem como devido às suas possíveis consequências – e um evento do futuro/presente, cuja principal vítima, que há muito os fãs da série gostariam de ter conhecido, foi finalmente apresentada apenas nos dois últimos episódios da temporada.
Justamente aí estaria talvez um dos fatos negativos deste quinto ano da série, visto que este personagem, que teve sua primeira referência na série na terceira temporada, nem bem foi revelado talvez não volte a dar as caras em Lost. A própria concepção dele é um tanto quanto confusa, muito provavelmente porque seu contato e ligação com os protagonistas do seriado teve que ser delineado em curtos instantes no decorrer destes dois últimos episódios – tivesse sido antecipado, seu surgimento poderia ter mais impacto e credibilidade, mas isso teria sido feito sob o custo de não ser uma surpresa para o fim da temporada.
Alguns, com certeza, também podem ter considerado a revelação sobre a transformação de outro personagem de suma importância para a série, usado como elemento surpresa adicional do fim deste quinto ano da produção, como algo negativo. É fato, agora, que seu destino e participação no seriado daqui em diante tomará rumo totalmente diverso. A bem da verdade, pelo que nos foi revelado, sua participação em grande parte desta temporada que se encerrou já foi bastante diverso do que estávamos pensando ser, pois as suas motivações e intenções para todo o seu comportamento neste ano era radicalmente oposto ao que estávamos sendo levados a crer. Penso, porém, que isto vai ter consequências interessantes para o último ano da série, configurando-se verdadeiramente como o primeiro passo da reta final do seriado.
E já que falamos em reta final, os dois últimos episódios de Lost também sugeriram, no horizonte de probabilidades que sempre foram cogitados pelos fãs, uma fusão entre duas das mais fortes correntes defendidas por eles. Possivelmente, o desfecho da série reuniria idéias advindas da teoria que sugere que os eventos da ilha tem uma causa natural/realista e outras daquela que aponta origens e intervenções divinas para tudo, o que transformaria a história numa espécie de estudo de campo entre duas forças que aparentemente nutrem crenças opostas – e nada mais pode ser dito sob pena de revelar detalhes essenciais. Claro que tudo são meras divagações quando se fala do epílogo de Lost, série das que mais ludibria os pressupostos que os espectadores já tomam como verdadeiros sobre a história e seus eventos – e o fim desta temporada é das provas mais concretas desta característica do programa -, porém, como temos restando apenas 16 episódios, as chances de que as idéias apontadas sejam as que de fato tomem corpo e se materializem como a conclusão tão aguardada são bastante grandes. A única coisa que não dá mesmo pra conceber direito é o início da última temporada – culpa, claro, do final literalmente bombástico que presenciamos há poucas semanas, que destruiu qualquer suposição sobre como pode ser retomada a série e, ao mesmo tempo, reconstruiu o estado de ansiedade nos espectadores. Agora, só em Janeiro de 2010 os fãs terão os ânimos acalmados – ou não.
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Mais uma temporada de Lost chega à sua conclusão, com a exibição de um eletrizante episódio final duplo. Desde que a série foi retomada, com a exibição do nono episódio, Lost entrou em uma espécie de conclusão de um ciclo, eliminando personagens secundários e mesmo alguns do primeiro escalão do elenco, talvez em caráter temporário, para, de modo muito astucioso, criar novas tramas para os personagens com eles diretamente ligados, dar mais espaço ao aprofundamento da mitologia cada vez mais extensa da ilha e possibilitar, a partir da próxima temporada, o desenvolvimento de uma mudança do espaço físico explorado na série. Parte disso já era do conhecimento do público através do uso dos flashforwards, o que fez desta a conclusão de temporada menos surpreendente da série até hoje. No entanto, a metade do impacto perdido no quesito surpresa foi devidamente compensado pela fabulosa composição da narrativa deste episódio final da temporada, que envolveu passado, presente e futuro da ilha e do mundo exterior à ela – só para citar como registro de exemplo, logo no início do episódio, foi engendrada uma fusão brilhante do fim da “recapitulação” dos acontecimentos anteriores com o início do episódio que, diga-se, remonta ao igualmente fenomenal fim da terceira temporada. Além disso, flashforwards de cada um dos personagens que tiveram especial destaque este ano – quem a assistiu, sabe bem de quem estou falando – pontuaram toda a duração do episódio, respondendo dúvidas que foram lançadas pela exposição de outros flashforwards durante toda a temporada, bem como lançando ainda outras sobre ocorrências na passado/presente/futuro da ilha e daqueles que a habitam – sem falar na aparição mais uma vez meteórica de dois velhos conhecidos do fim da segunda ano que ninguém imaginava que fossem novamente apresentados no seriado.
Mas o que pode nos aguardar para o quinto e penúltimo ano da série? Acho que o mais provável é que, como aposto desde a consequente implementação dos flashforwards, no fim do terceiro ano, há uma tendência em concentrar o foco da Lost no desenvolvimento de uma narrativa fora da ilha – o que, há poucos dias, foi citado pelos produtores como uma possibilidade para a quinto ano do programa. A meu ver, o melhor efeito ao adotar esta idéia seria obtido com a exploração de tramas no mundo exterior durante uma temporada – a penúltima seria ideal – para retornar à ilha como cenário para fechar a trama da série no seu último ano. Claro, isso é só uma aposta ingênua, pois certamente que os produtores devem ter tudo planejado desde já, e há chances de nada ter a ver com apostas e previsões que possamos elaborar. Confundir o espectador sobre a teoria que fundamentaria toda a explicação do que é testemunhado em Lost é uma diversão que os produtores cultivam há muito tempo e ela não foi abandonada nesta temporada – há pelos menos três sequências que retomam a idéia de tudo não passa de uma espécie de jogo, enquanto pelo menos uma lembra o espectador sobre a possibilidade de que os personagens enfrentam algum tipo de purgação espiritual. Contudo, ao menos um dado de certeza foi lançado nos momentos finais do episódio: a idéia de que a presença dos sobreviventes do vôo 815 na ilha não é mero acaso e acidente. Essa suposição, há muito mencionada nos episódios e perscrutada pelos fãs, foi agora abertamente reforçada como um dos fios condutores de todo o sentido da trama da série. Mas e o por quê dessa relação necessária da ilha com o seus ocupantes, capaz de desencadear eventos catastróficos quando da possibilidade que estes ocupantes abandonem a ilha? Bem, a resposta para tanto só deve vir depois de uns bons meses sofridos sem Lost – se é que teremos mesmo a resposta para isso na próxima temporada.
E encerrou-se nesta quinta-feira, com a exibição do oitavo episódio, o primeiro ciclo do quarta temporada do seriado americano Lost. Os indícios sobre a temática das histórias e o novo artifício utilizado nos episódios derradeiros do terceiro ano tomaram forma e se estabeleceram na nova temporarada: o flashforward, recurso que, de forma inversa ao flashback, revela como se apresenta um personagem específico em um ponto no futuro, foi ostensivamente utilizado em três dos episódios e parcialmente utilizado, dividindo espaço com o já consagrado flashback, em mais um deles. As revelações feitas nos flashfowards tem implicação direta tanto sobre o “momento presente” dos personagens, antecipando eventos e mesmo o destino de alguns deles dentro de um futuro próximo na realidade presente da ilha, quanto sobre um futuro mais distante, revelando conflitos de alguns personagens com relação à fatos ocorridos e seu desejo de fazer algo para solucionar tais conflitos.
E por falar em flashback, eles não foram descartados, mas seu conteúdo e sua razão de ser – como eu já previ no texto sobre minhas impressões da terceira temporada -, foram reformulados: muito mais do que revelar eventos do passado dos personagens antes de seu contato com a ilha, servindo ao propósito de esclarecer ou deixar mais nítidos traços da personalidade e comportamento destes, agora o flashback serve mais ao propósito de trazer esclarecimentos sobre histórias que tem direta relação com a realidade da ilha e das quais já temos conhecimento, conectando ou elucidando suas implicações nos eventos presentes – presente este que, de certa forma, pelo advento dos flashforwards e sua antecipação do futuro dos personagens dentro e fora da ilha, passou a tomar também a forma de um passado.
Quanto ao desenrolar dos eventos em si, os produtores e roteiristas resolveram começar a por em prática suas idéias sobre fatos que intrigam os fãs até hoje, como a relação da ilha e de seus ocupantes com o mundo exterior à ela, explorando consideravelmente dados sobre seus efeitos tanto em quem a deixa quanto em quem tenta entrar nela, efeitos estes que interferem na concepção de tempo e no livre arbítrio dos indivíduos. No entanto, apesar de que algumas das revelações tenham sido confirmadas como verdadeiras, o velho prazer de ludibriar os personagens, e por consequência confundir o espectador, não foi abandonado: a equipe de roteiristas, apesar de mostrar o contato da tripulação da misteriosa expedição que se aproximou da ilha no fim da última temporada, faz com que este contato traga informações desencontradas e dúbias sobre quem enviou tal expedição e sobre quais seriam seus principais objetivos.
Mas sempre há a possibilidade de um resvalo no desenvolvimento do argumento, não? O maior deles – talvez o único até o momento – tem sido a solução encontrada para explicar e levar à frente a informação dada na última temporada sobre o “outro” vôo Oceanic 815 encontrado no fundo do mar, que pode vir a ser um problema difícil de ser driblado no futuro da série – ainda há chances de atenuar seus efeitos, mas há sempre, também, o risco de que os produtores reforcem e “alimentem” o equívoco, o que simplificaria e descredibilizaria sensivelmente o argumento do seriado.
Com relação aos personagens, ainda é cedo para dizer se algum dos “novos” participantes da trama vai realmente ser “promovido” ao elenco fixo da história, mas meu palpite é que, até o momento, nenhum deles tem, na sua essência e desenho, importância para tanto. Já alguns dos personagens mais veteranos de Lost, apesar de prosseguirem firmes no destino do seriado, cederam lugar no desenvolvimente das histórias principalmente para aqueles que surgiram a partir do fim da primeira temporada – em particular para Desmond, graças a mais um episódio de dinâmica sensacional, e Benjamis Linus, que mesmo não tendo um episódio próprio, seja com flashback ou flashfoward, marcou presença demonstrando sua importância e influência, bem como suas astuciosas táticas, em um bom número deles. A exceção entre os veteranos fica com Michael, que foi reinserido na série de modo extremamente eficiente, ganhando um episódio que elucidou seu rumo depois de ter abandonado a ilha, no fim da segunda temporada.
Agora é aguardar até o dia 24 de Abril, quando a série retoma a história do ponto em que parou e promete, inclusive, segundo boatos, abordar o passado de um dos personagens que permanece ainda como um dos mais misteriosos e intrigantes. A espera é dura, mas se serve de consolo, vamos lembrar que este ano ela vai ser bem menor do que na terceira temporada – minhas unhas agradecem.
E encerrou-se o ciclo final da 3ª temporada de “Lost”. A retomada da série, que teve uma interrupção de quase dois meses depois do 6° episódio, teve alguns engasgos em capítulos que diziam quase nada, mais especificamente nos chamados “episódios de transição”, que tiveram a função de interligar deslocamentos de personagens, ações de naturezas diferentes ou o encerramento de um período de atividade para a retomada de outro. A meu ver, estes foram os episódios mais problemáticos e, possivelmente, os mais desnecessários: na essência, os episódios 9, “Stranger in a Strange Land”, 17, “Catch-22” e 18, “D.O.C” tem conteúdo fraco e desinteressante – quase uma enrolação -, fazendo-me acreditar que teria sido melhor deslocadar, encaixar e sintetizar em outros episódios as poucas sequências que apontam para novos acontecimentos ou revelações. O episódio de número 14, “Exposé”, que marcou o fim de dois personagens que foram apresentados nesta mesma temporada e que, a bem da verdade, sequer foram abordados, não foi exatamente ruim pelo seu conteúdo, já que a trama foi muito bem costurada e desenvolvida, mas pelo fato de que serve unicamente para encerrar a história de personagens que não foram, em momento algum, enraizados na mitologia da série e para também aparar arestas que ficaram aparentes, como a relacionada à personagem Sun – e que, novamente, poderia muito bem ter sido encaixada em outro capítulo.
Mas, considerando-se a equivalência entre erros e acertos, o saldo foi muitíssimo positivo. Alguns dos mistérios introduzidos na primeira temporada foram mesmo retomados e, em parte, elucidados. Digo em parte porque, por exemplo, apesar de a causa dos eventos que ocorrem com mulheres grávidas na ilha não ter sido elucidada, seu destino, dependendo da origem de sua gravidez, foi revelado – e, consequentemente, acabou sendo explicado o interesse do grupo dos “Outros” no processo da gravidez. Outro importantíssimo dado, que foi sugerido no primeiro ciclo desta temporada, ressurgiu de maneira sombria e dúbia nos últimos episódios: tanto o norteamento das ações dos “Outros” quanto os estranhos eventos da ilha podem ter uma causa, ou até um agente causador, central – e ele tem até um nome.
As novidades, então, foram razoavelmente numerosas e ousadas. Muitas delas tomaram lugar dentro dos eventos ocorridos nos já famosos flashbacks – traços dos mais simbólicos da dinâmica deste seriado. Personagens pertencentes ao chamado grupo dos “Outros” tiveram seus próprios episódios de lembrança, o que possibilitou aos produtores explicar a presença destes na ilha e sua origem, o comportamento irregular de alguns deles e pelo menos indicar o porque de seu posicionamento de franca oposição aos sobreviventes do vôo 815 da Oceanic – o que está diretamente relacionado ao misterioso agente que torna possíveis os estranhos eventos da ilha. Além disso, novas relações entre os personagens foram reveladas para o público em flashbacks mas, não necessariamente, reveladas para os próprios personagens: dúvidas e dívidas que Sawyer tinha deixado de cobrar no seu passado tiveram o conhecimento do seu personagem, mas a relação de Claire com mais alguém na ilha foi mostrada apenas aos espectadores, sem que a própria garota tenha se dado conta disso.
Mas a mais chocante e surpreendente revelação tomou lugar mesmo nos dois últimos episódios da temporada e pode mudar radicalmente o que pensávamos ser o destino da trama do seriado e de seus próprios personagens. Esta revelação tem direta relação com os já citados flashbacks, tão tradicionais no conceito de “Lost”. De acordo com o que foi mostrado, podemos concluir algumas coisas: primeiro, podemos não ter mais flashbacks em “Lost”, ou tê-los com muito menor frequência; segundo, podemos ter o conteúdo destes flashbacks parcialmente alterados, já que, daqui pra frente, a sua substância pode envolver muito mais os eventos da ilha do que poderíamos imaginar; podemos não ter mais flashbacks simplesmente porque eles serão substituídos por outro recurso que envolve revelações dos personagens – e eu não poderia ser mais explícito aqui sob pena de revelar o grande evento do final desta terceira temporada -; quarto, podemos nem mesmo ter mais episódios de “Lost” dentro da situação que tivemos até hoje; quinto, podemos, por fim, prever os eventos básicos que tomarão lugar na quarta temporada e, até mesmo, o que poderá ser o argumento base da quinta temporada e das subsequentes.
Por último, os rumos e ações de alguns personagens na próxima temporada, se não foi revelado, foi ao menos sugerido: Sawyer, Locke, Jack e Kate – estes dois últimos de forma impressionante – já tem apontados seus papéis no próximo ano da série – e nenhum deles, de diferentes modos, vai ter um desenrolar muito positivo.
Vai ser difícil aguentar 9 meses para acompanhar a sequência de uma série que, em meio há alguns solavancos, muitos deles fruto de planos, tramas e personagens abortados, conseguiu, pela 3ª vez, construir um desfecho surpreendente. Ansiedade maior do que esta que se encontra o público só há aquela de já ter conhecimento sobre quando “Lost” chegará ao seu fim, com a sexta e última temporada, em 2010. Algumas pistas sobre a conclusão da série, inegavelmente, já foram deixadas nos dois últimos episódios desta terceira temporada, mas, apesar da curta duração dos próximos anos, de apenas 16 episódios cada, quem duvida que eles não virem “Lost” do avesso, como foi feito com o esquema dos flashbacks nestes mesmos dois últimos capítulos?
Para os que tem os meios necessários para acompanhar os episódios da 3ª temporada de “Lost” através de downloads de episódios legendados na internet, pouco tempo depois de sua exibição original nos Estados Unidos, fecha-se o primeiro ciclo desta nova temporada, que retornará com a sequência dos 16 episódios restantes apenas em Fevereiro de 2007. Estes seis primeiros episódios deixaram os espectadores divididos entre aqueles que detestaram e outros que adoraram – mas mesmo os que não estão gostando dos rumos tomados neste início de temporada não deixaram de assisitir o seriado.
Problemas com o andamento do terceiro ano da série há, não restam dúvidas. Tomando o cuidado de não abrir a boca como o fazem por aí, revelando tudo o que ocorreu para aqueles que ainda estão assistindo este primeiro ciclo ou mesmo para os que sequer assistiram a 2ª temporada, esperando pacientemente a exibição na desperdiçante Rede Globo, vou citar alguns pontos negativos – leia sem medo: nada mesmo vai ser revelado que estrague qualquer surpresa. Primeiro, a presença constante dos chamados “Outros” nos episódios fizeram desaparecer grande parte do elenco original, esquecidos, junto com os eventos que os envolvem no acampamento dos sobreviventes. Segundo, mesmo quando são abordados novamente os personagens da queda do avião, a sua participação e a importância de alguns dos acontecimentos vivenciados por eles acaba ou perdendo a continuidade e simultaneidade em relação ao que anda acontecendo no domínio dos “Outros” ou senão tem seu impacto reduzido, mesmo tendo sido estes eventos vividos por eles de extrema importância. Um terceiro problema é a sequência de mortes que iniciou-se na parte final da 2ª temporada e que conclui-se num destes seis episódios, praticamente pondo um fim na participação de um grupo de personagens que surgiu no segundo ano da série. O quarto problema é o aparente abandono de alguns mistérios surgidos na primeira e segunda temporadas: uma das principais questões sem resposta é se aquele personagem que se foi no fim da 2ª temporada simplesmente não vai mais voltar – lembrem-se que ele carregou consigo alguém que envolvia um dos acontecimentos mais importantes da série, e que ocorreu no final da primeiro ano. E um quinto ponto negativo (alguns poderiam até enumerar ainda outros mais) seria o argumento de alguns deste seis episódios, que criou estórias pregressas algo incongruentes e fracas para alguns personagens cabais da série.
No entanto, também temos belos pontos positivos neste ano 3 de “Lost”. O primeiro e principal deles seria o fato de que, mesmo alguns mistérios tendo sido ao menos temporariamente esquecidos, outros tão importantes quantos estes foram finalmente revelados: algo sobre “Os outros”, muito sobre a queda do avião da Oceanic, e revelações sobre a possível existência de contato com o mundo fora da ilha. Segundo, criações importantes da mitologia da série voltaram a dar a suas caras nestes primeiros episódios: os ursos polares se fazem presentes novamente e o chamado “Lostzilla” volta com furor e implacabilidade fatal – este último, além disso, retoma também a idéia de que os personagens passam por algum tipo de teste ou provação. Terceiro, os “Outros”, ainda que muito envoltos em mistérios, foram revelados como sendo liderados por personagens que vivem armando jogos psicológicos – quando não fisicamente torturantes -, explorando muito bem as dúvidas e temores dos personagens. Quarto, os personagens novos ou aprofundados nesta terceira temporada, em especial do grupo dos “Outros”, mostram mais uma vez a admirável capacidade da equipe que produz “Lost” de construir personagens cativantes e bem amarrados, muito auxiliados, justiça seja feita, pelos seus intérpretes. Quinto, os personagens clássicos da série – entenda-se aqui os sobreviventes do desastre do avião -, em alguns episódios, tomaram atitudes surpreendentes, mesmo em participações lamentavelmente pequenas: Sun e Jack – sempre ele -, particularmente, satisfizeram o meu lado mais homicida com suas ações que já tiveram ou terão, no retorno da série, importantes consequências. Sexto, com a entrada de Rodrigo Santoro no elenco teremos, aparentemente, um personagem brasileiro no seriado.
Com relação à Santoro, temos que poupar nossas críticas à sua ainda diminuta participação na série. Antes de qualquer coisa, temos que lembrar que Santoro é praticamente um mero desconhecido inserido em meio à uma produção estrangeira que já pode ser considerada veterena. Sendo assim, não poderíamos esperar, por exemplo, ter flashbacks de seu personagem logo de cara, não da forma como ele foi inserido e de como está sendo sugerida sua personalidade.
Resta-nos agora aguardar a retomada da 3ª temporada em fevereiro próximo. Algumas entrevistas e declarações dos produtores na internet – que evito ler – mostram que eles podem ter esquecido alguma coisa, mas também mostram que eles estão bem atentos para acontecimentos-chave da trama, antigos e novos, tendo eles comentado, inclusive, que o mistério que envolve crianças e uma odiada nova personagem será abordado de alguma forma logo nos primeiros episódios do segundo ciclo. É, mesmo cambaleando em alguns momentos, “Lost” continua de pé e mantendo o interesse. Alguma audiência pode ter sido perdida, mas lembrem-se que toda febre passa, para o bem do paciente – eu realmente não entendia como pessoas que não curtem seriados poderiam estar assistindo “Lost”. Só espero que a ABC, o canal que produz a série, entenda que esta parcela do público não era mesmo a audiência típica dos seriados americanos e desconsidere a histeria coletiva inicial, tão falsa quanto a idéia de que a série não aborda o lado humano dos personagens, como foi comentado por aqui no seteventos.org no texto anterior sobre a série.
4 ComentáriosEi! Você já deu uma olhada na barra lateral? Sim! São links para episódios legendados de “Lost” e da série “Heroes”. As fontes foram devidamente citadas, claro. Aproveite e baixe: uma conexão de banda larga apenas regular já satisfaz as necessidades para o download dos arquivos! Eu sei, eu mereço um beijo. Não, dois. De preferência do Matthew Fox, que continua um arroubo de masculinidade em pleno terceiro ano de “Lost”.
Sucedendo a 4ª temporada de “24 horas”, “Lost” estréia na Rede Globo no mesmo horário infame de sua antecessora. Tratadas como simples solução para ocupar o horário do apresentador Jô Soares durante suas férias, a mais popular televisão do país não sabe fazer uso do que tem em mãos: tanto a série produzida pela Fox quanto pelo canal americano ABC são sucesso absoluto em seu país e são exibidas, com justiça, em horário nobre. Porém, seriados estão para os americanos como as novelas estão para os brasileiros. E enquanto aqui as TVs tentam enfiar garganta abaixo produtos que se repetem uns aos outros sucessivamente e que tem exibição inédita diária – daí a impossibilidade de qualidade -, nos Estados Unidos o produto tem exibição semanal e ideías que se não são absolutamente inovadoras tem, ao menos, a virtude de as reciclar muito bem. É o caso de “Lost”: depois de um desastre aéreo, os sobreviventes, perdidos numa ilha oceânica, tentam levar em frente à vida tendo que lidar uns com os outros – até então meros desconhecidos entre si -, enfrentando a possibilidade de que talvez nunca sejam resgatados e, aí está o pulo do gato da série, convivendo num ambiente sinistro, que é palco de eventos inexplicáveis.
Essa é a mistura bem costurada de séries como “Arquivo X”, e da dinarquesa “The Kingdom” – na qual se inspirou Stephen King para a versão americana, “Kingdom Hospital” -, com uma ambientação tropical e uma vestimenta Robson Crusoé. Não dá para chamar o resultado disso de simples cópia, trata-se muito mais de um produto novo, derivado da inspiração de inúmeras outras idéias. E o resultado é fenomenal: elenco ideal – que mistura estreantes e veteranos, que é o caso do gatíssimo e excelente ator Matthew Fox -, produção que se esmera no capricho, direção exata, roteiro preciso. É a irmã mais rica de uma supreendente “tsunami” de séries de conteúdo excepcional – como “House”, “Nip/Tuck”, “Desperate Housewives” e a já citada “24 horas”), depoia da “aposentadoria” de séries veteranas de qualidade, como “Arquivo X” e “Sex and the City”. E é um mérito da obra conseguir sacudir até o seu público cativo – o viciado em cinema e seriados, como eu.
“Lost” superou todas as minhas expectativas, pelos já citados motivos e também por conseguir criar momentos de tensão absoluta sem apelações: um exemplo disso foi a cena final do episódio piloto duplo: alguns do personagens reunidos no topo de um morro e ouvindo uma mensagem absolutamente sinistra e enigmática num comunicador e que teve origem há cerca de 16 anos. Recordo que poucas vezes uma única cena, em todos esses anos assistindo filmes e séries, conseguiu instaurar em mim um terror tão absoluto como esta. E, como uma legítima e honrosa irmã da saudosa “Arquivo X”, só faz deixar ainda mais confusos os expectadores a cada novo capítulo exibido. Mais do que imperdível.