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Tag: leonardo dicaprio

“A Origem” (“Inception”), de Christopher Nolan. [download: filme]

Inception, de Christopher Nolan.Grupo que rouba segredos industriais de grandes executivos invadindo seus sonhos tenta fazer com que o filho de um grande empresário do ramo da energia divida o conglomerado de empresas invadindos os sonhos deste para inserir a idéia.
Antes e mesmo depois de assistir “A Origem”, as poucas críticas ao filme das quais tive notícia afirmavam que Christopher Nolan, também roteirista do longa-metragem, se apropriou ou mesmo plagiou conceitos de outros filmes, como “Cidade das Sombras” e o “Ano Passado em Marianbad” e até mesmo, em tom de brincadeira, que teria se inspirado em uma história dos quadrinhos do Pato Donald. No que tange ao primeiro filme citado, muito pouco ou nada pode ser encontrado para apontar algum indício de plágio e, no caso de “O Ano Passado em Marianbad”, não faz muito sentido fazer esta acusação por uma razão um tanto quanto óbvia. Se houve influência, Nolan e seu filme não estão sozinhos: por ser daquelas obras únicas que estabeleceram novos paradigmas para o cinema, do lançamento deste ousadíssimo longa-metragem nos anos 60 até hoje, há incontáveis, inúmeros filmes que podem igualmente ser apontados como tendo se apropriado da dinâmica da narrativa complexa e difusa criada pelo diretor francês Alain Resnais – a apropriação da idéia criada por Resnais é moeda corrente ininterrupta do cinema hollywoodiano há coisa de duas décadas, já que, digamos, ao menos meia dúzia de longas são concebidos todo ano a partir desta idéia. Os problemas de “A Origem” são outros e poucas pessoas devem ter dado à devida atenção à eles porque estão escondidos sob a carapaça visual e narrativa que tanto fascinou a platéia.
Claro que “A Origem” é um filme ardilosamente bem realizado – quanto à isso, não há onde apontar problemas. Nolan é já há um bom tempo um diretor dotado de grande argúcia: sempre consegue reunir um bom elenco em uma produção que organiza em seus mais diversos elementos de modo a atingir o clima por ele almejado. Isso, unida à sua grande capacidade em arquitetar belas sequências de ação e de efeitos especiais é sempre garantia de entretenimento – e este seu novo filme é provavelmente a sua criação mais divertida até hoje. Porém, à medida que sua competência técnica aumenta, a artística vem diminuindo em igual proporção: desde “O Grande Truque” que a incapacidade de Nolan em aliar emoção com diversão vem degringolando – isso quando ela não escorrega na pieguice mais desprezível, como aconteceu na última hora de duração de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”. No caso de “A Origem”, na composição cada vez mais intrincada de seu roteiro, Nolan vai despindo-o de seu cerne emocional: a cada mergulho na dinâmica cíclico-labiríntica do seu argumento, o diretor-roteirista vai nivelando o longa à sua própria natureza material, cada vez mais assemelhada à trama de um videogame (os “níveis” dos sonhos no filme são claramente análogos à tradicional arquitetura em níveis ou fases da maior parte dos games produzidos até hoje). Intoxicada por si própria, pela beleza de sua concepção intrincada, a história termina vazia da fabulosa camada emocional que continha e que anunciava poder explorar e, por isso, apesar de Leonardo DiCaprio basicamente repetir o papel de homem cheio de culpa e amargor pela perda do amor que vimos em “Ilha do Medo”, tanto não há espaço em meio à trama narcisística para ele ou qualquer dos personagens terem sua camada emocional explorada como a própria vaidade do personagem afasta a possibilidade de empatia deste com o público – e isso parece ser uma sina de Christopher Nolan, pois justamente este é o maior problema de “O Grande Truque”.
É evidente que se restringirmos a análise do filme às suas artimanhas narrativas e técnico-criativas o resultado será facilmente favorável à Nolan e sua obra: as diferentes partes que compõe o argumento são bem costuradas e concatenadas, auxiliadas ainda por uma edição que aproveita esta característica da história, uma trilha que funciona como eixo que as aproxima e unifica e uma concepção visual que expande e ilustra soberbamente as idéias que nascem do roteiro. No entanto, se nos desvencilharmos do estado de fascínio que esses elementos como um todo causam, defeitos também surgem. No campo narrativo, ainda que o trabalho seja bom, a bem da verdade ele é calcado na repetição do seu mote inicial – os sonhos de um personagem servem como palco à ação e este dá partida ao próximo nível, que terá como arena os sonhos de outro personagem que, por sua vez, dará a partida ao próximo nível, e assim sucessivamente enquanto alguns imprevistos surgem para injetar algum suspense. Pensando objetivamente, isso acaba sendo um pouco monótono e deixando, a certa altura, a história e seu desfecho bem previsíveis. E isso acaba nos levando à frente técnico-criativa: uma vez que a idéia base do roteiro deixa em aberto cada um dos níveis para serem preenchidos com uma série de alternativas visuais, Nolan dá vazão à sua já conhecida megalomania e os inflaciona com a soluções e efeitos tão adorados pela maior parte do público – é a grande diversão do filme, sem dúvidas, mas é por isso mesmo que acabam por tonar-se a sua tônica, o que, volto a dizer, infelizmente o reduz à sua mera materialidade e destrói todo o aspecto humano da história – isso pra não ser mais criterioso e considerar que, deste modo, Nolan desperdiça seu roteiro e o usa apenas como desculpa para dopar a platéia com um espetáculo visual que, entorpecida e, não raro, viciada que se torna, pouco se esforça ou mesmo se nega a encontrar os problemas apontados. Ou ao contrário, extasiada pelos prazeres oferecidos pelo visual requintado e pela história aparentemente intrincada, mergulha em análises delirantes sobre a suposta profundidade do longa-metragem – que ele até poderia ter, mas descarta em detrimento de seu caráter comercial. Por essa razão, sou obrigado a admitir que, em se tratando de técnicas de inserção de idéias e convencimento, o diretor é bem mais eficiente do que seu elenco: enquanto o grupo leva mais de dez horas pra convencer uma pessoa por vez, Nolan lobotomiza toda uma platéia em coisa de duas horas e meia – é um mestre.

hotfile.com/list/721922/27bb0b9

legendas (português):
opensubtitles.org/pt/subtitles/3755975/inception-pb

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“Ilha do Medo”, de Martin Scorsese.

Atualização: não deixe de ler a ótima resenha que o meu amigo fez sobre o livro de Dennis Lehane, no qual foi baseado o roteiro do filme, que já está online e pode ser conferida clicando aqui.

Shutter IslandAgente federal inicia investigação, acompanhado de seu parceiro, da fuga de uma paciente-presidiária em ilha-prisão para criminosos com desvios mentais.
Martin Scorsese é um dos diretores mais consagrados do cinema, responsável por clássicos absolutos, muitos deles verdadeiras rendições que mapearam a cidade de New York e retrataram seus habitantes e personagens, como foi feito em “Taxi Driver”, “Depois de Horas”, “A “Época da Inocência” e a cinebiografia “Touro Indomável”. Mas o diretor também conseguiu realizar grandes filmes quando deixou de estabelecer território na grande metrópole, como aconteceu ao filmar “Cassino” e “A Última Tentação de Cristo”. Como estes últimos, seu mais recente filme lançado, “Ilha do Medo”, não é apenas mais uma produção em que o diretor aventura-se longe da cidade que por muito tempo foi sua verdadeira musa, mas também reafirma a posição de Scorsese entre os cineastas representativos da história do cinema americano que ainda produzem obras relevantes. Baseado no livro homônimo do autor de “Sobre Meninos e Lobos” – que rendeu um filme irritante de Clint Eastwood -, “Ilha do Medo” é um esplêndido exercício de cinema cujo principal trunfo é o seu roteiro adaptado. É verdade que, por esse motivo, boa parte do que é o filme deve-se à composição da história por Dennis Lehane em seu livro, mas isso não reduz os méritos de Scorsese na transposição deste para a tela. A caracterização dos personagens, a atmosfera construída no filme, a construção de seus cenários e ambientes e as intervenções do cineasta são mais do que suficientes para delegar méritos também ao diretor.
A escolha do elenco, por si só, já foi um grande acerto do diretor, já que ao delegar a Leonardo DiCaprio o papel principal, Scorsese garantiu ao personagem uma atuação soberba de um ator capaz de trazer o misto de credibilidade, perturbação, perplexidade e sensibilidade necessários para tornar crível a sua jornada do início ao fim, aqui consideradas todas as embricações da trama. A seleção dos atores coadjuvantes e de apoio, entre eles Ben Kingsley, Max Von Sydow, Patricia Clarkson e Jackie Earle Haley, também foi de suma importância para incrementar e afinar a história complexa do livro para a materialidade do cinema. A ambientação cuidadosa na concepção de cenários e na escolha de locações é mais um elemento excepcional no longa-metragem de Scorsese: não apenas ela serve de apoio ao trabalho dos atores ao cercá-los em uma reconstituição realista do ambiente e da época como ainda é o instrumento, junto com outros elementos técnicos como a fotografia e a seleção das peças musicais e canções para compor a trilha sonora, que ajudou o diretor a construir a atmosfera de mistério que encobre a maior parte do filme, lhe garantindo o efeito desejado num constante confundir e ludibriar sobre o que de fato ocorreu e está ocorrendo.
A meu ver, porém, é um pequeno detalhe que desnuda toda a qualidade de “Ilha do Medo”: ao fazer com que o personagem de Leonardo DiCaprio conclua o longa-metragem com uma frase extremamente significativa que não está no livro de Dennis Lehane, Scorsese intervém na dinâmica da história de modo espetacular, resumindo, com apenas isto e no último minuto do filme, toda a trajetória do protagonista e dissipando ainda qualquer dúvida que pudesse estar de pé sobre o personagem e a sua trama. O golpe de mestre deixa claro que o longa-metragem não é meramente um jogo narrativo para confundir o público – o que já seria muito bom -, mas uma uma esplêndida história sobre como as pessoas podem enredar-se em narrativas que lhe são necessárias para seguir com suas vidas depois de um evento dramático – não posso ser mais claro na explicação e no uso de adjetivos pelo sério risco de estragar o espetáculo para aqueles que ainda não viram o filme.
Contando com toda a experiência que tem, Martin Scorsese adotou o caminho mais difícil ao não se render à uma adaptação superficial e barata do material que tinha em mãos, evitando tirar proveito de qualquer situação passível de instaurar o suspense pelo susto. Ao invés disso, o diretor americano esquadrinha e torna tangíveis os temores psicológicos da história com uma caracterização sem falhas e um roteiro enxuto e preciso cujas alterações sutis perpetradas apenas aprimoram a essência original da história. Explorando terrores e anseios humanos em uma abordagem instigante, como Alfred Hitchcock fazia magistralmente há algum tempo atrás, Scorsese mostra que Hollywood pode muito bem voltar a deter a tônica da sétima arte, há muito perdida em meio a incessantes – e na maior parte desnecessários – remakes, artifício ao qual ele mesmo se rendeu em “Os Infiltrados” e pensa ainda se render com “Taxi Driver”, e sucessivas sequências de franquias que não fazem jus nem ao seu ponto de partida. Mas à esta última armadilha da indústria do cinema, ao menos, o diretor americano nunca pareceu ter interesse em aderir – e espero que continue assim.

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