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Tag: indie-rock

Liily – I Can Fool Anybody In This Town (EP) [download: mp3]

No EP de estréia I Can Fool Anybody In This Town, os cinco jovens de Los Angeles que formam a banda Liily deixam claro que bastam bateria, baixo e guitarra para fabricar melodias arrebatadoras, como “Toro”, que abre o disco disparando um refrão grudento no qual o instrumental explode em uma orgia sonora, e “The Weather”, onde o vocal, as supressões instrumentais, os acordes sinuosos e cortantes de guitarra e a bateria encorpada e possante sopram um vento, assim, Arctic Monkeys. E por falar na banda britânica, “Sepulveda Basin”, além de ser um respiro momentâneo da tônica acelerada do disco, poderia facilmente emplacar sua bateria, baixo e guitarras graciosas em Humbug, o disco que marcou a guinada sonora dos jovens ingleses para um rock mais melódico. “I Can Fool Anybody In This Town”, faixa título do disco, tem como destaque a parceria entre guitarra e bateria em um compasso curto e vívido, ao contrário de “Nine”, que mantém a aceleração, mas reflete na melodia a mesma aflição de versos como “what if I can’t bleed when I cut with your razor?”. A banda conclui o EP com o vocal rascante, a guitarra afiada e a bateria intensa de “Sold”, uma faixa vibrante na qual a banda demonstra que, mesmo ainda sendo novata na abarrotado cenário do indie e do rock alternativo, possui toda a auto-confiança das veteranas.

Baixe: https://www.mediafire.com/file/bd4psoscjfv4qwd/liily-fool.zip

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Julia Jacklin – Crushing [download: mp3]

Com seu segundo álbum, Crushing, lançado semana passada, a australiana Julia Jacklin ainda é uma novata no meio musical, tendo confessado que só em meados de 2016 se deu conta que a música tinha se tornado sua principal ocupação, já que pouco tempo lhe sobrava para seu emprego “tradicional”. Apesar disso, a garota parece ter adquirido maturidade artística suficiente para compor algumas faixas de imensa beleza, caso de “When The Family Flies In”, uma elegia tocante de vocal sofrido e piano abafado que recorda a triste banalidade dos últimos momentos na companhia de um amigo que se foi, e da faixa “Comfort”, que fecha o disco com a simplicidade de um violão de tonalidade folk e um vocal desconcertantemente resignado onde Julia trata sobre alguém que, após abandonar uma relação, tenta se convencer que seu ex-companheiro está bem – como ilustra o verso “don’t know how he’s doing, but that’s what you get, you can’t be the one to hold him when you were the one who left”. “Body”, faixa de abertura e single do disco, é outra amostra da qualidade musical que a australiana já atinge: com um vocal letárgico em letra episódica sobre uma mulher que decide abandonar um relacionamento que percebe não ser saudável e uma melodia enxuta baseada em uma harmonia quase imutável de bateria e baixo e um discreto piano na sequência final, Julia captura a atenção do ouvinte desde o princípio, fatalmente enlaçando-o na cadência melancólica e algo soturna da canção. Há, no entanto, como encontrar no disco tecituras de outros gêneros, como a leve coloração country nas guitarras e na bateria da balada “Don’t Know How to Keep Loving You”, na qual Julia fala de uma paixão que foi exaurida pela convivência de um casal, e o pop/rock moderadamente ritmado da guitarra, baixo e bateria em “You Were Right”, onde, após o término de uma relação, uma mulher confessa ter prazer em desfrutar de todas as coisas então recomendadas por seu companheiro, mas que nunca experimentara por contrariedade à forma insistente que ele as fazia.
No entanto, a australiana ainda é uma artista em formação, e por isso é compreensível que boa parte de suas composições ainda soem tanto opacas (caso de “Head Alone”, com guitarra e bateria abatidos e vocal pouco inspirado, e de “Good Guy”, faixa com instrumental de toques espaçados e um vocal sem brilho em que Julia suplica pela atenção de um rapaz que claramente não tem o mesmo interesse) quanto irregulares (como “Turn Me Down”, que inicia desprovida de ânimo até reverter-se em um frenesi melódico onde a cantora solta a voz sem receios, mas consciente de suas limitações). Ainda assim, o saldo final é compensador, e pelo que se observa nas melhores canções do disco, com mais alguns pés na bunda que a garota dê ou leve, quem sabe, poderemos ter um “breakup album” genuinamente rock n’roll.

Baixe: https://www.mediafire.com/file/mrpceg0zigq6u64/jacklin-crush.zip

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Jarvis Cocker – Further Complications. [download: mp3]

JarvisApós uma estréia solo bastante elogiada pelos críticos por conta do seu rock embebido em elegantes pitadas pop, Jarvis Cocker, mais conhecido por ter sido o vocalista da banda britânica Pulp, lançou este ano Further Complications, um disco cuja sonoridade rock depojada é resultado consciente de um trabalho de composição mais concentrado na instrumentação básica do rock – guitarra, baixo e bateria. Em consequência disso, boa parte das canções ganha ares de first take, como se tudo tivesse sido produzido sem muito ensaio e esmero de produção, emulando uma sonoridade simples e direta. Os acordes curtos e certeiros da guitarra e baixo e os toques quase rudimentares da bateria na faixa “Angela” ilustram bem esse estilismo musical que permeia grande parte do disco, assim como acontece em “Fuckinsong”, onde a cadência forte da bateria e os riffs graves de guitarra, combinados ao vocal algo afetado de Cocker, que não tem a menor vergonha de decorá-lo com deliciosos artifícios, como gritos, sussuros e gemidos, resultam em uma música petulantemente dançante. Há, claro, algumas faixas em que há um maior esmero na produção e instrumentação, como em “Homewrecker!”, que inclui um saxofone desvairado em consonância com a melodia efusiva, mas ainda assim Jarvis preserva a atmosfera de improviso com seu vocal extravagante.
Porém, é bom ressaltar que muito da graça das composições de Jarvis Cocker não nasce apenas das melodias, mas de suas letras irônicas, que satirizam a vida moderna com um histrionismo que foge do prosaico – como acontece em meio a aglomerada agitação da bateria, baixo, guitarra e backing vocals nostálgicos de “Further Complications”, onde encontramos versos como “saí do útero com três semanas de atraso, sem a menor pressa de me juntar ao resto da humanidade” ou “eu preciso de um vício, eu preciso de uma aflição para cultivar uma personalidade”. Em outras canções, Jarvis enfatiza nas letras sua verve intelectual sem resvalar no pedantismo – como na balada “Leftovers”, com guitarras, bateria, baixo e vocais cheios de malemolente dramaticidade, que mesmo ao situar um flerte em um museu de paleontologia não transforma em clichê o trocadilho dos versos “aprisionado em um corpo que me denuncia, me permita ser sucinto, antes que nós dois nos tornemos extintos” – ou revela conhecimento de causa nas ambições afetivas do homem moderno, sem cair em vulgaridades mesmo sendo bastante direto – como em “I Never Said I Was Deep”, onde os acordes abatidos de guitarra, baixo, saxofone e bateria formam uma melodia triste que partilha o desencanto da letra em que Jarvis diz “se você quer alguém pra conversar, você está perdendo seu tempo, se você quer alguém pra dividir a vida, então você precisa de alguém vivo”.
Apesar de seu estilo bastante formal de se vestir sugerir austeridade e serenidade musical dignas de um João Gilberto, cujo imaginário mítico dele derivado nos faz pensar ser capaz de passar horas em cima de um acorde para atingir exatamente aquilo que almeja, em todo o decorrer de Further Complications, Jarvis Cocker prova exatamente o oposto – que é muito mais um cara descoladíssimo que, imagino eu, é muito mais afeito a improvisações descompromissadas saborosíssimas que depois ele nem vai lembrar exatamente como repetir. Isso sem nunca perder de vista o gosto em explorar em sua música todas as nuances de sua idiossincrasia cult encoberta por uma fina ironia britânica – porque só um cara muito bem-humorado teria a idéia de fechar um disco disco tão rockeiro com “You’re In My Eyes (Discosong)”, uma balada disco-soul swingada cheia de glamour setentista.

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Evangelista – Hello, Voyager. [download: mp3]

Evangelista - Hello, Voyager!Difícil saber o que levou a nova-iorquina Carla Bozulich a rebatizar o seu projeto, no seu segundo lançamento, com o nome do primeiro disco. Evangelista, o disco, é agora o nome da banda. Mas isso, pouco importa: as idéias partem mesmo é de sua mentora, Carla. E em Hello, Voyager, o arcabouço criativo da artista americana foca-se nos domínios do rock, mas dentro dele, apresenta-se com tonalidades bem variadas. Carla e sua banda, por exemplo, trazem no álbum duas faixas instrumentais, mas a atmosfera de ambas é bem diversa: enquanto “For the L’il Dudes” intriga com suas cordas assustadoramente soturnas, “The Frozen Dress” causa arrepios com o coro de murmúrios e lamentos vocais sobrepostos às guitarras que reverberam acordes graves e enrugados. Para algum ouvinte mais apressado, por sinal, a atmosfera algo esdrúxula de ambas as faixas poderia ser motivo para taxar a banda de experimental. No entanto, a impressão não corresponde à realidade da essência sonora deste trabalho da banda de Carla.
Ao meu ver, Evangelista preza por uma sonoridade mais crua, aquela que se atinge sem muita preparação, sem muito ensaio. A maior parte das canções soa como demos e outtakes de si próprias, frutos de improvisações imediatas. As duas faixas que abrem o disco são retratam isto muito bem: “Winds of St. Anne” não vai muito além de versos cantados ou vociferados, que soam tão distantes e distorcidos quando a orgia de acordes de guitarras e baixo que lhe formam o fundo, acompanhados de quando em quando por uma bateria de toques breves, ligeiros e soltos, e “Smooth Jazz”, apesar do nome, não tem nada de suave ou macio, muito menos de jazzistico – é sim um rock verborrágico e confuso, onde a bateria continuamente esmurrada em uma cadência marcial concede ares esquizofrênicos à faixa, sempre com a ajuda de guitarras e teclados que pontualmente sibilam um acorde agudo e distoante em meio à sua participação na melodia. “Truth Is Dark Like Outer Space”, apesar de fiel ao método improvisionista da banda, soa um tanto menos caótica e esparsa, prezando por uma maior compactação melódica que surge toda de uma vez só, depois de breves ruídos na introdução, lançada de sopetão aos ouvidos numa procissão sonora das guitarras, baixo, bateria e vocal que formam um todo quase indivisível.
Porém, todas as outras composições do álbum viram mero detalhe se comparadas àquela que é a verdadeira razão para se dispensar atenção à este disco: “Hello, Voyager!”, a última faixa, que dá nome ao álbum. A música, que totaliza pouco mais de 12 minutos, é introduzida pela instrumentação sôfrega e solta de guitarra, bateria, percussão e metais, encadeados em sequência melódica ondulada e pulsante, que logo ganha a sobreposição do vocal que alterna o tom recitado, messiânico e pregatório com outro mais cantado, dando partida com o verso “I never was who I seemed to be” à um momento melódico derivado deste, em que um orgão de inconcebível beleza chega para acompanhar a instrumentação restante, organizando uma espécie de sinfonia fúnebre na qual Carla explora os limites da emoção de seu vocal, com gritos dolorosos que convocam a afirmação do amor como salvação quando tudo parece estar perdido. Desse momento em diante, a canção explora uma profusão de acordes em todo o instrumental, gerando uma sonoridade caótica que é a síntese da dor e do desespero, recrudescendo de forma exponencial até pouco a pouco silenciar-se, restando no seu fim apenas um último verso, solitário, proferido por Carla Bozulich. Esta é, sem qualquer exagero uma das músicas mais poderosas e intensas que já ouvi em toda minha vida, que de quebra ainda serve para mostrar o quanto o termo “emotivo” foi banalizado pela mídia e pela crítica para designar a obra de artistas desprovidos de qualquer resquício de sentimento – e isso só já pode ser considerado como contribuição inestimável para mostrar o que é de fato rock com emoção, mesmo que da carreira de Carla Bozulich e seu Evangelista só seja lembrada esta canção.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha para descompactar os arquivos.

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Se preferir, baixe apenas a canção seminal do disco:
Evangelista – “Hello, Voyager!”

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Scissors For Lefty – Underhanded Romance. [download: mp3]

Scissors For Lefty - Underhanded RomanceA banda é americana, de San Francisco, mas soa genuinamente inglesa como poucas. Scissors For Lefty, formada por rapazes de duas famílias diferentes, acaba de lançar seu disco de estréia há um mês e, coincidentemente, os garotos fazem um som que funciona mais ou menos da mesma forma que o Air Traffic: a banda “emula” um estilo já demarcado por outras personalidades do mundo da música – e trabalha muito bem ao fazer isso. Contudo, diferentemente do Air Traffic, a musicalidade desta banda denota uma jovialidade mais festiva e inconsequente – é por isso que, apesar da comparação com o Supergrass ter sido feita para os britânicos do Air Traffic, eu diria que isso tem muito mais a ver com estes americanos aqui. Fulgurando com esta agitação estão as faixas “Nickels & Dimers”, com riffs de guitarra pipocantes, esquizofrenismos vocais ao fundo, bateria complementar e programação ocasional e “Got Your Moments” que não tem qualquer vergonha e adiciona, além desta instrumentação já formada, as clássicas palminhas – que tem sempre o poder de deixar a harmonia ainda mais animada e caem bem em praticamente qualquer melodia “up”. Destaque absoluto destes momentos mais cheios de vivacidade são as confissões de estripulias inconsequentes e juras de mudança de comportamento em “Mama Your Boys Will Find A Home”, onde os arranjos das guitarras, bateria e piano estão particularmente dançantes e os vocais ganharam ar ainda mais sarcástico e displicente na companhia de suspiros e assobios, e também a busca pelo equilíbrio e ordem perdidos pelo fim de uma relação afetiva em “Next To Argyle”, cheia de notas musicais coloridas e farfalhantes no teclado e com guitarra e bateria de riffs de cadência curta e inquieta.
Em outras faixas as influências são bem distintas: “Ghetto Ways”, sua letra episódica sobre o flerte de um casal em uma pista de dança enquanto a polícia se prepara para invadir o clube, o teclado com samplers sutis de guitarra, bateria de volume moderado e completa lascividade nos vocais modificados eletronicamente não consegue disfarçar sua vontade de ser New Order; em “Lay Down Your Weapons” tanto o sarcarsmo ácido dos versos que afirmam que só muito bom humor faz você encarar o fim de uma longa relação amorosa, quanto a música, na qual escuta-se um teclado de toques doces e madrigais e guitarras que formam a base melódica e acordes faiscantes pontuais, há um gostinho saboroso de Life, o disco mais lúdico e folião dos suecos do The Cardigans; e a melodia agridoce do teclado, pandeiro e vocal de “Bring Us a Brick” não faria feio em um dos primeiros discos do conterrâneo Beck.
Underhanded Romance não é apenas um disco delicioso com melodias que ocupam a sua cabeça o dia inteiro: assim como o debut do Air Traffic, o disco de estréia do Scissors For Lefty veio para mostrar mais uma vez que é sim possível fazer música muito boa sem esmerar-se em querer parecer único e original. Isso nunca é difícil quando se faz música pelo gosto e pela diversão em fazê-la bebendo da fonte daqueles que você mais adora e admira – e é mesmo essa a impressão que fica ao escutar o trabalho destes rapazes de San Francisco. E vida longa à eles!
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