E encerrou-se o ciclo final da 3ª temporada de “Lost”. A retomada da série, que teve uma interrupção de quase dois meses depois do 6° episódio, teve alguns engasgos em capítulos que diziam quase nada, mais especificamente nos chamados “episódios de transição”, que tiveram a função de interligar deslocamentos de personagens, ações de naturezas diferentes ou o encerramento de um período de atividade para a retomada de outro. A meu ver, estes foram os episódios mais problemáticos e, possivelmente, os mais desnecessários: na essência, os episódios 9, “Stranger in a Strange Land”, 17, “Catch-22” e 18, “D.O.C” tem conteúdo fraco e desinteressante – quase uma enrolação -, fazendo-me acreditar que teria sido melhor deslocadar, encaixar e sintetizar em outros episódios as poucas sequências que apontam para novos acontecimentos ou revelações. O episódio de número 14, “Exposé”, que marcou o fim de dois personagens que foram apresentados nesta mesma temporada e que, a bem da verdade, sequer foram abordados, não foi exatamente ruim pelo seu conteúdo, já que a trama foi muito bem costurada e desenvolvida, mas pelo fato de que serve unicamente para encerrar a história de personagens que não foram, em momento algum, enraizados na mitologia da série e para também aparar arestas que ficaram aparentes, como a relacionada à personagem Sun – e que, novamente, poderia muito bem ter sido encaixada em outro capítulo.
Mas, considerando-se a equivalência entre erros e acertos, o saldo foi muitíssimo positivo. Alguns dos mistérios introduzidos na primeira temporada foram mesmo retomados e, em parte, elucidados. Digo em parte porque, por exemplo, apesar de a causa dos eventos que ocorrem com mulheres grávidas na ilha não ter sido elucidada, seu destino, dependendo da origem de sua gravidez, foi revelado – e, consequentemente, acabou sendo explicado o interesse do grupo dos “Outros” no processo da gravidez. Outro importantíssimo dado, que foi sugerido no primeiro ciclo desta temporada, ressurgiu de maneira sombria e dúbia nos últimos episódios: tanto o norteamento das ações dos “Outros” quanto os estranhos eventos da ilha podem ter uma causa, ou até um agente causador, central – e ele tem até um nome.
As novidades, então, foram razoavelmente numerosas e ousadas. Muitas delas tomaram lugar dentro dos eventos ocorridos nos já famosos flashbacks – traços dos mais simbólicos da dinâmica deste seriado. Personagens pertencentes ao chamado grupo dos “Outros” tiveram seus próprios episódios de lembrança, o que possibilitou aos produtores explicar a presença destes na ilha e sua origem, o comportamento irregular de alguns deles e pelo menos indicar o porque de seu posicionamento de franca oposição aos sobreviventes do vôo 815 da Oceanic – o que está diretamente relacionado ao misterioso agente que torna possíveis os estranhos eventos da ilha. Além disso, novas relações entre os personagens foram reveladas para o público em flashbacks mas, não necessariamente, reveladas para os próprios personagens: dúvidas e dívidas que Sawyer tinha deixado de cobrar no seu passado tiveram o conhecimento do seu personagem, mas a relação de Claire com mais alguém na ilha foi mostrada apenas aos espectadores, sem que a própria garota tenha se dado conta disso.
Mas a mais chocante e surpreendente revelação tomou lugar mesmo nos dois últimos episódios da temporada e pode mudar radicalmente o que pensávamos ser o destino da trama do seriado e de seus próprios personagens. Esta revelação tem direta relação com os já citados flashbacks, tão tradicionais no conceito de “Lost”. De acordo com o que foi mostrado, podemos concluir algumas coisas: primeiro, podemos não ter mais flashbacks em “Lost”, ou tê-los com muito menor frequência; segundo, podemos ter o conteúdo destes flashbacks parcialmente alterados, já que, daqui pra frente, a sua substância pode envolver muito mais os eventos da ilha do que poderíamos imaginar; podemos não ter mais flashbacks simplesmente porque eles serão substituídos por outro recurso que envolve revelações dos personagens – e eu não poderia ser mais explícito aqui sob pena de revelar o grande evento do final desta terceira temporada -; quarto, podemos nem mesmo ter mais episódios de “Lost” dentro da situação que tivemos até hoje; quinto, podemos, por fim, prever os eventos básicos que tomarão lugar na quarta temporada e, até mesmo, o que poderá ser o argumento base da quinta temporada e das subsequentes.
Por último, os rumos e ações de alguns personagens na próxima temporada, se não foi revelado, foi ao menos sugerido: Sawyer, Locke, Jack e Kate – estes dois últimos de forma impressionante – já tem apontados seus papéis no próximo ano da série – e nenhum deles, de diferentes modos, vai ter um desenrolar muito positivo.
Vai ser difícil aguentar 9 meses para acompanhar a sequência de uma série que, em meio há alguns solavancos, muitos deles fruto de planos, tramas e personagens abortados, conseguiu, pela 3ª vez, construir um desfecho surpreendente. Ansiedade maior do que esta que se encontra o público só há aquela de já ter conhecimento sobre quando “Lost” chegará ao seu fim, com a sexta e última temporada, em 2010. Algumas pistas sobre a conclusão da série, inegavelmente, já foram deixadas nos dois últimos episódios desta terceira temporada, mas, apesar da curta duração dos próximos anos, de apenas 16 episódios cada, quem duvida que eles não virem “Lost” do avesso, como foi feito com o esquema dos flashbacks nestes mesmos dois últimos capítulos?
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Para os que tem os meios necessários para acompanhar os episódios da 3ª temporada de “Lost” através de downloads de episódios legendados na internet, pouco tempo depois de sua exibição original nos Estados Unidos, fecha-se o primeiro ciclo desta nova temporada, que retornará com a sequência dos 16 episódios restantes apenas em Fevereiro de 2007. Estes seis primeiros episódios deixaram os espectadores divididos entre aqueles que detestaram e outros que adoraram – mas mesmo os que não estão gostando dos rumos tomados neste início de temporada não deixaram de assisitir o seriado.
Problemas com o andamento do terceiro ano da série há, não restam dúvidas. Tomando o cuidado de não abrir a boca como o fazem por aí, revelando tudo o que ocorreu para aqueles que ainda estão assistindo este primeiro ciclo ou mesmo para os que sequer assistiram a 2ª temporada, esperando pacientemente a exibição na desperdiçante Rede Globo, vou citar alguns pontos negativos – leia sem medo: nada mesmo vai ser revelado que estrague qualquer surpresa. Primeiro, a presença constante dos chamados “Outros” nos episódios fizeram desaparecer grande parte do elenco original, esquecidos, junto com os eventos que os envolvem no acampamento dos sobreviventes. Segundo, mesmo quando são abordados novamente os personagens da queda do avião, a sua participação e a importância de alguns dos acontecimentos vivenciados por eles acaba ou perdendo a continuidade e simultaneidade em relação ao que anda acontecendo no domínio dos “Outros” ou senão tem seu impacto reduzido, mesmo tendo sido estes eventos vividos por eles de extrema importância. Um terceiro problema é a sequência de mortes que iniciou-se na parte final da 2ª temporada e que conclui-se num destes seis episódios, praticamente pondo um fim na participação de um grupo de personagens que surgiu no segundo ano da série. O quarto problema é o aparente abandono de alguns mistérios surgidos na primeira e segunda temporadas: uma das principais questões sem resposta é se aquele personagem que se foi no fim da 2ª temporada simplesmente não vai mais voltar – lembrem-se que ele carregou consigo alguém que envolvia um dos acontecimentos mais importantes da série, e que ocorreu no final da primeiro ano. E um quinto ponto negativo (alguns poderiam até enumerar ainda outros mais) seria o argumento de alguns deste seis episódios, que criou estórias pregressas algo incongruentes e fracas para alguns personagens cabais da série.
No entanto, também temos belos pontos positivos neste ano 3 de “Lost”. O primeiro e principal deles seria o fato de que, mesmo alguns mistérios tendo sido ao menos temporariamente esquecidos, outros tão importantes quantos estes foram finalmente revelados: algo sobre “Os outros”, muito sobre a queda do avião da Oceanic, e revelações sobre a possível existência de contato com o mundo fora da ilha. Segundo, criações importantes da mitologia da série voltaram a dar a suas caras nestes primeiros episódios: os ursos polares se fazem presentes novamente e o chamado “Lostzilla” volta com furor e implacabilidade fatal – este último, além disso, retoma também a idéia de que os personagens passam por algum tipo de teste ou provação. Terceiro, os “Outros”, ainda que muito envoltos em mistérios, foram revelados como sendo liderados por personagens que vivem armando jogos psicológicos – quando não fisicamente torturantes -, explorando muito bem as dúvidas e temores dos personagens. Quarto, os personagens novos ou aprofundados nesta terceira temporada, em especial do grupo dos “Outros”, mostram mais uma vez a admirável capacidade da equipe que produz “Lost” de construir personagens cativantes e bem amarrados, muito auxiliados, justiça seja feita, pelos seus intérpretes. Quinto, os personagens clássicos da série – entenda-se aqui os sobreviventes do desastre do avião -, em alguns episódios, tomaram atitudes surpreendentes, mesmo em participações lamentavelmente pequenas: Sun e Jack – sempre ele -, particularmente, satisfizeram o meu lado mais homicida com suas ações que já tiveram ou terão, no retorno da série, importantes consequências. Sexto, com a entrada de Rodrigo Santoro no elenco teremos, aparentemente, um personagem brasileiro no seriado.
Com relação à Santoro, temos que poupar nossas críticas à sua ainda diminuta participação na série. Antes de qualquer coisa, temos que lembrar que Santoro é praticamente um mero desconhecido inserido em meio à uma produção estrangeira que já pode ser considerada veterena. Sendo assim, não poderíamos esperar, por exemplo, ter flashbacks de seu personagem logo de cara, não da forma como ele foi inserido e de como está sendo sugerida sua personalidade.
Resta-nos agora aguardar a retomada da 3ª temporada em fevereiro próximo. Algumas entrevistas e declarações dos produtores na internet – que evito ler – mostram que eles podem ter esquecido alguma coisa, mas também mostram que eles estão bem atentos para acontecimentos-chave da trama, antigos e novos, tendo eles comentado, inclusive, que o mistério que envolve crianças e uma odiada nova personagem será abordado de alguma forma logo nos primeiros episódios do segundo ciclo. É, mesmo cambaleando em alguns momentos, “Lost” continua de pé e mantendo o interesse. Alguma audiência pode ter sido perdida, mas lembrem-se que toda febre passa, para o bem do paciente – eu realmente não entendia como pessoas que não curtem seriados poderiam estar assistindo “Lost”. Só espero que a ABC, o canal que produz a série, entenda que esta parcela do público não era mesmo a audiência típica dos seriados americanos e desconsidere a histeria coletiva inicial, tão falsa quanto a idéia de que a série não aborda o lado humano dos personagens, como foi comentado por aqui no seteventos.org no texto anterior sobre a série.
4 ComentáriosEi! Você já deu uma olhada na barra lateral? Sim! São links para episódios legendados de “Lost” e da série “Heroes”. As fontes foram devidamente citadas, claro. Aproveite e baixe: uma conexão de banda larga apenas regular já satisfaz as necessidades para o download dos arquivos! Eu sei, eu mereço um beijo. Não, dois. De preferência do Matthew Fox, que continua um arroubo de masculinidade em pleno terceiro ano de “Lost”.