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Tag: cinema

“A Queda: as últimas horas de Hitler”, de Oliver Hirschbiegel.

Der Untergang.jpgOs últimos momentos da vida de Adolf Hitler e do regime nazista são retrados a partir dos relatos de Traudl Junge, secretária pessoal do comandante alemão.
O tema do Holocausto já foi devassado por dezenas de filmes das mais diferentes maneiras. Desde a visão mais plana, unilateral e sentimentalóide até tentativas dispensáveis de transformar o acontecimento em uma peça satírica (falo aqui do lamentável “A vida é Bela”), poucas oportunidades tivemos de fugir da visão ufanista e maniqueísta do cinema americano. O filme mais recente que nos oferta algo além do que comumente se vê sobre o tema é o longa do diretor Oliver Hirschbiegel, uma produção genuinamente alemã e que parte da visão de uma mulher de origem germânica que, apesar de não ter qualquer relação ou adoração pelo regime nazista, acabou tendo contato direto e pessoal com o seu gestor.
Uma produção como esta não poderia deixar de gerar polêmica e ser um dos filmes mais complexos sobre o tema. Não é fácil analisar o filme de Hirschbiegel: o tema é delicado por si só, e o fato de ser uma produção do país que foi responsável pelo Holocausto só aumenta o grau de dificulfdade da tarefa. No entanto, apesar do temor inicial, o filme alemão é o retrato mais realista e eficaz da Segunda Guerra Mundial. O diretor, em uma decisão acertadíssima, resolveu suprimir ao máximo o uso de cenas de batalha, evitando assim uma apologia ou glamourização do belicismo. As cenas de confronto são pontuais e servem principalmente para mostrar o cerco que se fechava à capital Berlim e ao bunker onde Hitler e seus principais comandantes se refugiavam.
E é justamente dentro do ambiente claustrofóbico do bunker que somos obrigados a passar a maior parte do filme. Se a batalha parecia cruel na superfície, a loucura e o desespero no interior do abrigo rivalizavam com esta à altura. Ali encontramos Hitler, em companhia constante de sua amante e futura esposa momentânea Eva Braun, bem como de seus mais confiáveis homens e de fiéis serviçais – entre eles a secretária Junge – lutando para aceitar a derrota e destruição do império ariano. À medida que avançava a violenta ofensiva russa, crescia também a cisão entre os ocupantes do refúgio: alguns resistiam à idéia da derrota do seu regime e da loucura de seu chefe, outros se conformavam com o fim do governo e já arquitetavam um acordo ou uma inevitável rendição, e havia àqueles ainda que não sabiam exatamente o que pensar. Com o passar das horas e com a definição mais clara do fim do nazismo restava apenas decidir se suas vidas realmente se encerravam junto com ele.
Hitler, o cerne e o motivo maior da produção do longa, é retrado de maneira bastante convincente, tanto em sua persona militar como a de homem “comum”. No que tange à sua faceta como o mentor do nazismo ele surge cruel, perfeccionista, astuto e vingativo com os militares que lhe causavam desagravo ou lhe desobedeciam. Na sua faceta mais pessoal, o roteiro teve o cuidado de humaniza-lo de forma bastante cuidadosa e apropriada, já que ele é mostrado como um homem culto e afável com aqueles a quem tinha como amigos e aliados e que demonstrava imenso respeito por quem lhe servia. Além disso, a exposição da deteriorização tanto de sua saúde frágil como de sua sanidade como estrategista ajuda a compreender a derrocada de seu sonhado império. O filme ainda se ocupa de revelar a frieza quase inumana da decisão do chefe de estado nazista de se suicidar junto de Eva, e de oferecer o mesmo como alternativa para aqueles que temiam o seu destino na mão dos adversários.
Tanto quanto o próprio Hitler, a personagem de Traudl Junge revela uma enorme complexidade: mesmo sem ser uma das partidárias do regime nazista e conhecer por alto as ações altamente reprováveis por este organizada, Junge decidiu disputar a vaga que lhe colocaria em contato direto com o comandante alemão, vaga esta que realmente obteve. Depois de meses de convivência com o nazismo e com Hitler a secretária inevitavelmente desenvolveu admiração pelo seu chefe, mas foi nos últimos dias que este sentimento mesclou-se profundamente com uma sensação de temor e horror diante da crescente loucura e falta de misericórdia daquele a quem ela acompanhou cotidianamente. Ao fim de tudo – do regime e de seu chefe, claro -, a jovem Junge resolve não perecer com estes, percorrendo de maneira corajosa – ainda que cheia de terror – as ruas da dilacerada capital nazista, e a turba de adversários que a ocupava, tentando vencer e abandonar àquela fase de sua vida, ainda que não fizesse qualquer idéia do rumo que ela tomaria.

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“O Jardineiro Fiel”, de Fernando Meirelles.

The Constant GardenerDiplomata acomodado desconfia das circunstâncias da morte de sua esposa, uma ativista que lutava contra a exploração da miséria, e resolve investigar por conta própria o acontecido. Logo descobre que a versão oficial para a morte de sua mulher está longe de ser a verdade.
Meirelles quis, em seu primeiro filme de produção estrangeira, não pisar em falso em momento algum, equilibrando a produção de maneira que despertasse a atenção de público e crítica sem chamar muita responsibilidade para si. O ponto de equilíbrio é bastante claro: enquanto vê-se uma produção financeiramente generosa, bastante requintada visualmente e com locações na Europa e na África, percebe-se que o diretor decidiu que iria conseguir controlar os rumos de seu longa na escolha da atriz para o papel de Tessa. Foi recusando atrizes da maginitude pública de Nicole Kidman e Kate Winslet – com a desculpa de não terem a idade apropriada -, e escolhendo uma atriz competente mas sem notoriedade pública excessiva, que o diretor garantiu para si as rédeas do controle autoral de seu longa-metragem, evitando tanto que sua produção fosse eclipsada pela fome de auto-promoção de atrizes como estas quanto que a presença de uma destas mulheres gerasse expectativas em excesso com relação ao seu filme. Foi assim que Rachel Weisz acabou sendo a escolhida para o papel, e o filme ganhou os contornos pleanejados pelo diretor brasileiro.
Fernando Meirelles consegue manter o conhecido nível de qualidade de suas produções em sua primeira incursão pelo mercado internacional. Os atores estão muito bem em seus papéis, limitando de forma inteligente suas atuações para não prejudicar a atenção do público com relação à estória do longa. O roteiro adaptado consegue organizar a fragmentação de sua estória de modo que o conceito não atrapalhe a compreensão do seu conteúdo. A fotografia, a montagem e a edição tem algo de saturação, imediatismo e imersão, sensações que potencializam o envolvimento do público com o desenvolvimento dos acontecimentos do filme. E a direção de Meirelles sabe deixar o registro de seu estilo sem prejudicar a unidade de cada uma das características já citadas. A palavra que melhor define o mais recente filme do diretor brasileiro é, sem dúvidas, “equilíbrio”.
Desta forma, “O jardineiro fiel” é realmente um filme muito bom, mas não se configura como uma obra-prima. Primeiro, pelo obra em si, que mostra ser um filme acima da média, mesmo entre as produções estrangeiras, mas não se torna referência imediata. Segundo, porque o filme é menos um marco na estória de diretores brasileiros que arriscam carreira internacional e muito mais um degrau acima no caminho percorrido há anos pelo trabalho competente dos cineastas brasileiros – ou seja, não se trata de que ganhamos respeito e reconhecimento internacional agora, mas sim de que já o estamos fazendo há um bom tempo, e este filme representa um avanço ainda maior neste caminho.
Por tudo isso, deve-se assitir à “O Jardineiro Fiel” com o nível de exigência no ponto certo. Nem todo artista nasceu para fazer história: a grande maioria está aí para contribuir na medida certa para o engradecimento da cultura e da arte.

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“Língua: Vidas Em Português”, de Victor Lopes.

Língua: Vidas Em PortuguêsDocumentário que reune a opinião de artistas, e um pouco do cotidiano de gente comum, centrando-se em como a língua portuguesa e a colonização deste povo influi e integra a vivência destas pessoas.
O “ser” lusitano – ainda que apenas descendente ou por criação – é aqui investigado de maneira fascinante para qualquer falante desta língua: não há como não se emocionar ao se dar conta de que, apesar das evidentes e inevitáveis diferenças, há afinidades eletivas que nos unem todos, e nos quais podemos nos reconhecer mutuamente – o desprendimento, a tradicão da refeição do “café” à mesa, a fé desmedida na religião, o amor pela música. Quando se concentra em pessoas anônimas, o diretor Victor Lopes prefere não indagar sobre a língua e o lusitanismo, preferindo evitar uma filosofia popularesca e ocupando-se em montar um breve painel da personalidade delas e do cotidiano vivido por estas pessoas. Desta forma, Lopes atingiu seu objetivo mesmo sem tocar propriamente no assunto, utilizando-as como ilustração da discussão formada pelos protagonistas mais famosos do documentário. E é quando o assunto entra em pauta que os momentos de maior beleza surgem: Teresa Salgueiro e Pedro Ayres Magalhães – da banda Madredeus – , o compositor Martinho da Vila, os escritores Mia Couto, José Saramago e João Ubaldo Ribeiro falam de maneira franca sobre esta alma coletiva que habita todos aqueles que pertençam de alguma maneira aos povos lusitanos. Tão intraduzível para todos os outros povos quanto a palavra “saudade”, somente os que tem a sorte de integrar uma das culturas mais ricas, belas e anfitriãs do mundo tem a capacidade de compreendar a totalidade do que está ali tão bem retratado. Documentário de apreciação obrigatória para todos àqueles que compreendem o quanto é maravilhoso ser um dos mais de 200 milhões de lusos pelo mundo.

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“V de Vingança”, de James McTeigue.

V For VendettaNa Inglaterra de um futuro não muito distante, jovem garota tem contato com um justiceiro mascarado que, aos poucos, lhe revela a verdadeira faceta da sociedade em que vive: uma nação que foi manipulada para aceitar um regime ditatorial que, de maneira sutil, se livra daqueles que julga nocivos ao convívio social ou que simplesmente se opõe à este regime.
O filme de James McTeigue, com roteiro dos irmãos Wachowski, reponsáveis pela concepção e direção do universo de “Matrix”, é uma adaptação realmente competente da Graphic Novel original de “V de vingança”. O roteiro resume de maneira eficaz os acontecimentos da mini-série dos quadrinhos e consegue despertar e manter o interesse do desenvolvimento dos acontecimentos, ao mesmo tempo que dosa isto com boas cenas de ação. A direção é forte e segura e as atuações, principalmente de Natalie Portman e Hugo Weaving – mesmo atrás de uma máscara o tempo todo – tem o “timing” ideal para um filme do tipo. Claro que, em se tratando de uma superprodução de Hollywood, é impossível que os mais entendidos em cinema não se irritem com um certo uso excessivo de estilismos visuais, principalmente na sua sequência final – me refiro às câmeras lentas, às chuvas providencialmente belas, à captura precisa da trajetória de facas e esquichos de sangue, entre outras coisas. No entanto, trata-se sim de uma excelente diversão descompromissada bem acima da média do gênero – e até mesmo bem melhor que, “Matrix”, a criação maior dos roteiristas -, já que retrata uma estória que envolve manipulação social e política, opressão e preconceito. Também é certo que justamente estas características pesem aí boa semelhança com o genial “1984” de George Orwell mas, a bem da verdade, apesar das semelhanças, a estória de “V de Vingança” consegue criar seus próprios ícones e rumos. Assim sendo, vamos torcer para que as adaptações de obras dos quadrinhos continuem trazendo uma boa quantidade de êxitos, como estamos tendo a sorte de ter nos últimos anos.

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“Crash – no limite”, de Paul Haggis.

CrashEm Los Angeles, a vida de várias pessoas se interelaciona através de eventos que devassam seus posicionamentos e comportamentos com relação às diferencas raciais.
Paul Haggis, roteirista de “Menina de Ouro”, escreveu e dirigiu este filme. Seu longa tem boas atuações, direção convencional, mas isso só não basta. Ele está muito longe de ser a obra-prima que pintam por aí, já que nem bom “Crash” chega a ser. O fato é que, ao encerrar-se a sua apreciação, o expectador permanece instintivamente imóvel, a espera de que algo aconteça. No entanto, a expectativa é frustrada.
Este é o maior problema do filme de Haggis. O longa simplesmente não acontece, preferindo correr abaixo do limite estipulado, contentando-se em ser um filme burocrático e maçante. É tanto clichê junto e tantas fontes de inspiração não assumidas e mal utilizadas que se tem a impressão que o diretor fez o seu trabalho lendo, ao mesmo tempo, a cartilha dos filmes cool, dos cult, dos independentes, e dos político/socialmente engajados na mão.
“Crash” quer ser muitas coisas mas não consegue ser satisfatoriamente nenhuma. No campo da segregação étnica ele quer ser o que “Código desconhecido” de Michael Haneke é com anos-luz de qualidade à frente. A opressão contra os negros de “Manderlay” foi retratada com muito mais originalidade pelo gênio inventivo de Lars Von Trier. O recurso das estórias fragmentadas mas interligadas já foi utilizado com muito mais competência por tanta gente no cinema, “Amores Brutos” sendo o exemplo recente mais bem sucedido. A tentativa de investigação das razões sociológicas que ocasionam – entre outras coisas – a miséria chega a ser constrangedora se comparada à qualquer um dos filmes do brasileiro Sérgio Bianchi.
O filme, tão celebrado pelo público leigo, é simplesmente isto: uma costura mal orquestrada de todas essas obras juntas. No final das contas, percebe-se que o diretor/roteirista quis fazer de seu filme um novo “Magnólia” que, ao invés de resumir-se apenas à dramas afetivos e pessoais como fez Paul Thomas Anderson em seu longa, envereda pelo filão da universalidade do caos da vida na sociedade urbana de hoje. As similaridades entre os dois filmes são tantas que me dou ao direito de citar apenas duas: primeiro, depois de todo o acontecido, os inúmeros personagens encerram sua jornada como uma experiência de auto-conhecimento e evolução pessoal e, se não chega a ser um final feliz pode ao menos ser considerado confortante para todos; segundo, a utilização da música pop/rock na sequência-chave final, que sela a conclusão da estória de cada personagem. É tão evidente o plageamento que é impossível encerrar o filme sem se sentir um completo idiota por estar assistindo aquilo. No entanto, quero deixar claro que tenho verdadeira ojeriza por “Magnólia” e, sendo assim, não haveria de ser diferente com um filme que usa este longa como esqueleto da concepção de seu argumento.
A pergunta que fica é: qual a razão de tanta celeuma por conta de “Crash”? Desde quando um poço de obviedades foi elevado à consideração de ser uma obra-prima? Me desculpem, mas meu cérebro merece mais do que isso: foi-se o tempo que um roteiro repleto de “riscos” milimetricamente calculados me surpreendia. E se eu bem me lembro, nem na minha adolescência isso tinha mais efeito em mim.

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Prévia: “X-men 3: The Last Stand”, de Brett Rattner.

Previa: Xmen 3 - The Last StandNo final de “X-Men 2″, a câmera opera um vôo sobre o lago criado com o rompimento de uma represa e focaliza-se sobre o que parece ser a forma de um pássaro de fogo no fundo de suas águas. Ninguém precisava ser maníaco por quadrinhos para ter se arrepiado com esta sequência, bastava gostar do grupo de mutantes e ter algum contato com uma das histórias mais dramáticas envolvendo os X-Men, que ocorreu nos gibis por volta do fim dos anos 80. Estou falando do episódio da Fênix Negra. E, felizmente, os roteiristas Zak Penn e Simon Kinberg tomaram este como um dos fios condutores daquele que afirmam ser o último capítulo da saga dos mutantes – para mais completo desespero de fãs como eu. Obviamente a estória foi devidamente atualizada e adaptada para o cinema, pois deve fazer sentido que os acontecimentos dos dois filmes anteriores. Resta saber se o resultado foi bom ou ruim. Além da fúria da Fênix Negra, a história da “cura” desenvolvida para eliminar os poderes dos mutantes também é tratada no filme. Para aqueles que não aguentam de tanta ansiedade, segue abaixo o endereço do trailer e também o endereço de uma imagem que reúne os 6 pôsteres/teaser do filme – que, como diz o próprio nome, não são ainda o pôsteres oficiais, mas apenas um aperitivo para atiçar a massa de maníacos. E, tendo já visto o trailer, posso afirmar: parece que a trilogia ganhou uma conclusão absolutamente épica e apocalíptica. Apertem os cintos!

http://www.jurassicpunk.com/clips/x-men3.trailer.mov

http://a-arca.uol.com.br/v2/images/pipoca_news_x3teasers_01.jpg

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Prévia: “United 93”, de Paul Greengrass.

Previa: United 93Tudo bem, há de se compreender a dro desolamento dos americanos com os eventos do 11 de setembro – apesar de que não se deve esquecer do cárater cosmopolista das vítimas, pois os mortos não foram somente de nacionalidade norte-americana. Porém,fazer um filme sobre o único dos aviões que não atingiu um alvo, espatifando-se no chão do estado da Pennsylvania depois da ação dos passageiros contra os terroristas, já é demais. Isso mesmo: um filme sobre o ocorrido. Acho que vocês já tiveram o bom senso de perceber que as chances de algo assim resultar em bom cinema são ínfimas, não é mesmo? Quer mais um dado que confirma as chances disso ser verdade? Aí está: a produção do filme foi toda feita, segundo noticiado, com o apoio dos parentes das vítimas do vôo. Pronto, isso basta. Claro que só podemos confirmar e comentar sobre a qualidade do filme depois de assisti-lo. Porém, em se tratando de um filme americano que fala sobre este evento, já dá para prever o tom da estória: ufanismo exacerbado, demonstrações de heroísmo e honradez do americano comum, enaltecimento da nação americana. Ou você acha mesmo que uma produção feita envolvendo os parentes dos mortos não ia dar este tratamento à estória. Recomendação de equipamento indispensável para acompanha-lo na pareciação do longa, quando de sua estréia: saco de vômito. Tudo bem que o filme pode ser bom (quase impossível), mas não custa se prevenir. Lembrem que nem todo mundo enjôa em uma viagem de avião, mas os tais saquinhos estão sempre estrategicamente à disposição dos viajantes. Clique no link abaixo para assistir ou baixar o trailer do filme. E não esqueça de opinar e deixar suas impressões usando os comentários!

http://www.jurassicpunk.com/clips/United.93.trailer.mov

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“Manderlay”, de Lars Von Trier.

ManderlayDepois da experiência em Dogville, onde a presença de Grace alterou os rumos da vida de todos os que lá viviam, a jovem chega a Manderlay, acompanhada de seu pai e seus gangsters. No momento em que se preparavam para ir embora uma mulher negra implora por socorro. Entrando nas dependências da fazenda descobrem que os proprietários do local mantém o regime da escravatura, mesmo depois de 70 anos de sua abolição. Grace interpela pelos escravos subjugados e decide ali permanecer, acompanhada de gangsters de seu pai, até garantir que os ex-escravos descubram como (sobre)viver em regime de liberdade e que seus ex-senhores tenham assimililado a concepção de que eles agora são livres e tão plenos de direitos quanto eles próprios.
Lars Von Trier é, como alguns diretores que constroem um projeto cinematográfico, presunçoso e ególatra. Porém, vindo dele isso é plenamente aceitável, já que ele possui todos os fundamentos para sê-lo: o diretor dinamarquês é um dos cineastas vivos mais geniais. Enquanto a imprensa propaga que o cinema oriental é a vanguarda do novo século, Von Trier mantém o trabalho mais verdadeiramente coeso, ousado e “avant-garde” da atualidade, criando e recriando seu cinema de uma forma inimaginável.
Apesar de avaliar o primeiro filme da chamada trilogia “Terra das oportunidades” como o mais fraco já produzido por Von Trier, ainda assim um filme seu é sempre melhor do que a maior parte do que é lançado durante todo o ano. Meus problemas com “Dogville” são a sua estética seca, seu argumento um pouco infantil e a óbvia presença de Nicole Kidman, que apresentou uma boa atuação mas que também causou enjôo, já que na época ninguém conseguia pisar em uma videolocadora sem trombar com algum dos inúmeros filmes que ela vinha fazendo. No entanto, em “Manderlay” Lars conseguiu amadurecer sua crítica aos Estados Unidos e à seu povo, concebendo uma fábula mais sombria e desesperançada.
À exceção de Lauren Bacall, que marca uma presença rápida como outro personagem, e do onipresente Jean-Marc Barr – ator fetiche do diretor dinamarquês – os personagens que marcaram presença no filme anterior retornam neste longa personificados por outros atores. Grace, por exemplo, muda de aparência, sendo aqui interpretada por Bryce Dallas Howard – filha do diretor Ron Howard. Esta é uma idéia interessante do diretor, já que ao mesmo tempo que abre caminho para novas nuances na personalidade do personagem ainda tem a obrigação de preservar os traços que foram anteriormente apresentados. Isso acabou gerando um problema, percebido por alguns críticos: Grace volta neste filme com um furor idealístico ainda maior, reforçando o caráter ingênuo da personagem. Isso não deixa de ser uma contradição, visto a experiência que Grace viveu em Dogville. No entanto, também não deixa de ser relevante a insistência nestes mesmos traços da personalidade da jovem ruiva, já que tudo nela é uma metáfora da América e de sua cruzada pela justiça, liberdade e democracia pelo mundo.
E já que entramos na questão do simbólico, qualquer pessoa mais esclarecida que assista ao novo filme de Lars Von Trier vai reconhecer na estória uma analogia à invasão americana ao Iraque: os delírios idealistas de Grace; a imposição na vida alheia daquilo que acha moralmente correto, e com o uso da força, se necessário; seus atos baseados em decisões impensadas; sua ingênua ignorância das diferentes concepções de valores e conceitos – tudo remete ao modo de pensar e agir da América e da maior parte de seu povo.
A cenografia da segunda parte da trilogia continua minimalista: um palco com fundo escuro, iluminação teatral, objetos cenográficos pontuais, marcações no chão propositalmente visiveis. Já comentei não ter gostado do experimentalismo teatral em Dogville, mas é fato que neste segundo filme o público já entra mentalmente pré-disposto a assimila-lo mais rapidamente. E Lars consegue mostrar estranha simbiose entre o visual desidratado da ambientação das cenas e o esporádico uso de alguns efeitos especiais muito bem aplicados, que servem de apoio direto ao argumento do filme. O efeito de uma tempestade de areia em pleno palco, por exemplo, é ao mesmo tempo de constraste e complementação.
Depois de toda essa experiência de cinema, ironicamente concebida com uso violento de recursos teatrais, Lars ainda reserva uma surpresa – das mais chocantes – nos créditos finais do filme, ao som da famosa canção “Young Americans” do britânico David Bowie. Não cometa o pecado venial de parar o longa antes de observa-lo até o fim. O diretor dinamarquês evita poupar seu público até mesmo neste momento, normalmente a sequência mais puramente formal de um filme. Lars Von Trier não tem mesmo quaisquer pudores em concretizar suas idéias, por mais doentias que possam parecer.

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“Capote”, de Bennet Miller.

CapoteAo tomar conhecimento do assassinato de toda uma família em Holcomb, uma cidadezinha interiorana dos Estados Unidos, o jornalista e escritor Truman Capote parte para o local para escrever um artigo sobre o acontecido para a famosa revista The New Yorker. Ao chegar na cidade o seu interesse sobre o ocorrido se amplia, e ao invés de um simples artigo Capote sente que deve escrever um livro. Assim, ele passa a dedicar alguns anos da sua vida envolvendo-se intensamente com a estória, fazendo pesquisas e entrevistas com os amigos da família e seus assassinos, produzindo aquilo que viria a ser considerado uma obra-prima, o livro “À sangue frio”.
Bennet Miller foi sábio e astuto ao decidir sobre a estrutura de sua cine-biografia de Capote: ao invés de se utilizar de todo o material disponível no livro de Gerald Clark resolveu retratar apenas o breve período que descreve a gênese do livro mais famoso do jornalista americano. Com essa decisão, Miller evitou uma enxurrada de sequências desnecessárias e tornou “Capote” uma das melhores biografias filmadas por Hollywood nos últimos anos, afastando do seu filme o traço mais comum em obras do gênero: a pieguice e apelação ao sentimentalismo fácil produzidos em cima de momentos dramáticos da vida do biografado. Porém, o longa metragem de Bennet Miller não se contenta apenas com a função de retratar o figura de Capote, formando ainda um discurso notadamente contrário à pena de morte ao explorar o sofrimento do jornalista durante o longo processo de sucessivas apelações para cancelamento da pena concedida aos crimininosos. O diretor também foi inteligente ao escolher o tom de seu longa-metragem, construindo um silêncio inquietante e seco durante todo o filme, o que torna ainda mais brutal a chocante sequência que retrata os assassinatos. Nada mais sensato: o silencio que percorre a maior parte de “Capote” é análogo àquele encontrado nas comunidades mais tradicionais dos Estados Unidos, que sempre tem algo de soturno e mórbido escondido sob sua atmosfera de aparente tranquilidade – quem conhece o trabalho de David Lynch sabe muito bem disso.
A atuação de Phillip Seymor Hoffman é, de fato, excelente: o ator soube incorporar o tom certo para não retratar de forma caricata um intelectual homossexual, construindo um Truman Capote que é sim egocêntrico e afetado, mas nunca é fresco e arrogante. Deve-se dar o devido mérito ao ator por conseguir atrair a simpatia do público ao compor um personagem que poderia facilmente ser mal compreendido por um ator menos atento. Mas Hoffman soube captar as sutis nuances do personagem: apesar de acreditar ser insensível à situação e pensar estar apenas usando os criminosos com o intuito de produzir seu livro, Capote se descobre sensibilizado com a estória dos assassinos e do crime em si, e acaba profundamente deprimido pelo misto de carinho e horror que nutre pelos homens reponsáveis pelo crime que queria retratar. É por compor um trabalho tão complexo que Hoffman merece o Oscar de melhor intepretação que ganhou este ano. E já que estou falando de Oscar, é bom informar que Miller consegue deixar para trás o celebrado – com justiça, admito – filme de Ang Lee, conseguindo fazer de seu sutil e brutal “Capote” o maior merecedor dos prêmios da Academia. No entanto, mais uma vez, Hollywood se recusou à ser sensata.

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“De tanto bater, meu coração parou”, de Jacques Audiard.

De Battre Mon Coeur s'est ArrêtéThomas Seyr trilha o mesma caminho de seu pai fracassado Robert, fazendo parte de um grupo de violentos corretores que agem criminosamente, sabotando imóveis para obter lucro com sua revenda. Robert, imoral e insensível, só faz manipular emocionalmente seu filho para que intimide comerciantes que lhe devem dinheiro de seus imóveis. Apesar de estar há muito tempo anestesiado por um cotidiano tão opressor, o jovem acaba animado-se com o convite para uma audição por um amigo de sua falecida mãe, que era uma promissora pianista. Tendo abandonado a prática com o instrumento há anos, Thomas contrata uma pianista chinesa para aprimorar seus dotes musicas até o dia da audição.
O filme da Jacques Audiard é um remake de um longa americano de 1978 chamado “Fingers” – raro que a Europa apresente uma refilmagem de uma obra americana -, com Harvey Keitel no papel que é, neste filme, de Romain Duris. Não tenho conhecimento sobre o filme original, mas Audiard foi competente na sua empreitada, concebendo um filme atualíssimo, ao revelar a face derrotada do seu país: sem identificar exatamente a cidade onde decidiu encenar sua estória – supõe-se ser Paris -, o diretor revela na sua película uma França miserável e infeliz através da fotografia realista e das sequências em que mostra desabrigados rufigiando-se em edifícios rotos.
Porém, o filme também revela-se poético na importância da música na trama – particularmente da música clássica, já que a música eletrônica, que Thomas insiste em ouvir é mais um reflexo de sua personalidade explosiva. É atraves de elementos como estes que se instaura um paradoxo entre a delicadeza e brutalidade estética do filme, que são a exteriorização do idílio do protagonista, que interioriza o conflito: luta com seu própria natureza rude e primitiva, herança do seu pai, vislumbrando o oportunidade de cultivar a sensibilidade artística, legado da mãe pianista. Sensato, Audiard concebe um protagonista de personalidade realista: ao mesmo tempo que Thomas por vezes emociona, com sua dedicação à sua aprimoração como músico, ele também pode ser extremamente repulsivo e deplorável, como na sua visão machista sobre as mulheres. O ponto que trará equilíbrio no seu conflito de personalidade é a jovem pianista chinesa com quem ele decide ter aulas: na quase total incomunicabilidade com a jovem, Thomas tenta controlar sua personalidade irascível através da única coisa que os une – a música erudita. Ao final do filme vemos que o diretor foi sensato até mesmo aonde seria mais fácil se perder – na conclusão da estória. É ali que Audiard mostra que apesar de todo nosso esforço, nem sempre o que almejamos é por nós alcançado – ao menos não da forma que, ingenuamente, idealizamos.

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