Pelo cartaz do filme, elenco, equipe de produção e sinopse do filme Huckabess – a vida é uma comédia, qualquer pessoa com um mínimo de intimidade e senso cinematográfico perceberia as pretensões dos realizadores: uma comédia nonsense, ainda que inteligente e sutilmente blasé, assim como foi Os excêntricos Tenenbaums, de Wes Anderson. Confesso que minha curiosidade era grande e tinha boas expectativas, já que no elenco encontrava-se uma de minhas atrizes preferidas, a francesa Isabelle Huppert.
Mas a expectativa geralmente não corresponde a realidade. E a regra confirmou-se. A presunção do diretor David O. Russell e do seu co-roteirista é tanta que irrita. A estória gira em torno de um ativista de uma organização ambiental que procura dois detetives/analistas, que trabalham buscando solucionar “dramas” e angústias pessoais, para encontrar a razão de algumas coincidências pelas quais encontra-se obcecado. No decorrer de sua experiência de investigação pessoal-filosófica lida com seu ódio pessoal pelo ambicioso executivo de uma rede de loja de departamentos, que está interfirindo na sua liderença à frente do organização ambiental, e encontra um bombeiro que questiona a razão de ser da vida e que está sendo seduzido pelos métodos terapêutiucos-investigativos de unma filósofa francesa. Como podem ver, o mote da estória é mesmo nonsense, mas não consegue obter o charme sedutor necessário pois, lá pela terceira sequência de questionamento pessoal-filosófico o expectador já está cansado: os diálogos ficam cada vez mais chatos e desinteressantes, mesmo com a tentativa do diretor de usar na tela de certos recursos visuais que tentam fazer uma representação da técnica empregada pelos detetives-analistas. O recurso, na verdade, soa bobo e infantil, prejudicando ainda mais o filme.
E não há elenco que resista a pretensão e maneirismos insistentes dos realizadores. Para ser bem sincero só insisti em ver o filme por três razões simples: 1) não goste de ver filme nenhum pela metado, mesmo os ruins e irritantes; 2) Isabelle Huppert é sempre uma lufada de ar fresco, esbanjando elegância e charme nas suas performances, mesmo em um filme ruim; 3) Mark Wahlberg. É isso mesmo. Desculpem admitir, mas tenho um certo tesão incalacrado por esse cara. Como resistir ao gostoso ator americano vestido de bombeiro e exibindo um ar angustiado mas viril? É claro: em se tratando de um filme, isso é pouco. Mas fica a sugestão: alugue Os excêntricos Tenenbauns e esqueça essa tolice repleta de questionamentos filosóficos tão desinsteressantes saídos da cabeça de nerds angustiados.
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A indústria cinematográfica americana é mesmo admirável: é impressionante como ela consegue abafar o talento da maior parte dos cineastas não-americanos que se arriscam por lá. O diretor escocês Danny Boyle pode ser considerado um dos muitos a figurar como exemplo de tal teoria: produzindo na Europa, criou o excelente Cova Rasa e também Trainspotting que, apesar de dividir opiniões é, ao menos, uma tentativa ousada. Evidentemente que o sucesso de público não passou despercebido pelos produtores americanos e, lá foi Boyle, fisgado por prospostas financeiras irrecusáveis. Todo mundo sabe como acabam essas coisas, e com Boyle não foi diferente: ele penou com dois amargos fracassos de público e crítica: Por uma vida menos ordinária e A praia. Agora o diretor escocês volta a filmar na Europa depois de alguns bons anos e, para a alegria de seus fãs, redime-se de seus erros com uma fenomenal reestréia.
O roteiro volta a ser o ponto forte do diretor: depois de um pequeno prólogo, Extermínio mostra uma Inglaterra despovoada devido a mortes e êxodo em massa que ocorreram em um espaço de pouco menos de um mês. O protagonista é um jovem que entrou em coma pouco antes do surgimento da doença e acorda, completamente sozinho, 28 dias depois (daí o nome original do filme) em um hospital sem estar a par de nada do que aconteceu. Vagueando pela agora desértica Inglaterra ele encontra outros sobreviventes e descobre a verdade: os poucos que sobreviveram vivem em uma constante luta contra uma horda de “infectados”, vítimas de uma violenta epidemia de uma variante da Raiva que transforma, em poucos segundos, qualquer um que entrar em contato com seu sangue em zumbis histéricos sem qualquer resquício de racionalidade. O resultado é uma Inglaterra apocalíptica: o governo desapareceu, falta luz, água e os meios de comunicação pararam de funcionar.
Danny Boyle é um dos diretores que mais consegue manter tensa sua platéia e, especialmente neste filme, ele o faz de forma intensa. Primeiro, porque não há como manter-se indiferente as cenas que apresentam um mundo abandonado e despovoado. Depois, porque é assustadora a epidemia de raiva retratada no filme, que dizimou populações em poucos dias e varre o que há de humano em qualquer um, esteja ou não-infectado. Isso porque os poucos humanos saudáveis que lutam para sobreviver acabam perdendo tanto sua humanidade quanto os “infectados” (e o filme mostra isso muito bem). Por fim, e como consequência deste último dado, a violência do filme é das mais impressionantes nos últimos anos no cinema, não apenas visualmente como psicologicamente. Tudo isso junto acaba fazendo o espectador mover-se inquietantemente na poltrona.
Há ainda uma última curiosidade: quando da sua exibição em salas de cinema, o longa apresentou dois finais, sendo que o segundo era uma conclusão alternativa da estória, e era exibido logo após os creditos finais do filme. Muitos acabaram criticando o final “oficial” da estória dizendo que ele é por demais otimista, preferindo adotar como fim a segunda opção, verdadeiramente pessimista, diga-se de passagem. O final “oficial” é otimista, é bem verdade. No entanto, isso não tira os méritos do filme e, até mesmo, consegue abrilhantar ainda mais seu roteiro: afinal de contas, para aqueles que, como eu, são adeptos do “joguem uma bomba e comecemos tudo de novo”, chega a causar alegria a idéia de que, um dia, seria possível refazer a humanidade tendo a chance de fazê-lo direito.
Tudo o que parte de princípios político-ideológicos, engajamento, não é exatamente o que me apetece. No entanto, apesar de que o mote da sua estória seja justamente este, o filme alemão Os Edukadores me cativou. Parece que com o recente Adeus Lênin! (que é um bom filme, mas não chega a ser a obra-prima que foi pintada no comentário de muitos), o cinema alemão começou a contar com cineastas bastante inventivos e muito promissores. Tomara que continue assim.
No filme, Jan e Pete são os Edukadores, ativistas políticos que entram na residência das famílias das classes mais bastadas da Alemanha, quando ninguém se encontra em casa, e saem sem levar sequer um copo. Seu intuito é causar desconforto, quando não temor, através de sua técnica de atuação: uma vez dentro da residência, eles rearranjam (ou melhor, bagunçam) toda a mobília, deixando apenas um bilhete com os dizeres “seus dias de fartura estão contados” ou “você tem dinheiro demais”. Tudo corre muito bem até que a namorada de Pete, devido aos seus problemas financeiros, vai morar com os dois amigos. A partir daí o relacionamento dos três muda de figura e tudo, inclusive o ativismo político, começa a se desestabilizar, para o bem ou para o mau.
Apesar de trazer personagens altamente engajados e cheios de ideologismo (independente de que engajamento e ideologismo estamos falando), o filme me agradou muito por ter sido muito bem realizado, dirigido, contar com elenco que tem ótimo desempenho (Daniel Brühl, o jovem que é a grande revelação de Adeus Lênin!, e possivelmente atual fetiche do cinema alemão, está aqui) e, principalmente, um roteiro que não resvala nos convencionalismos, soluções fáceis e inverossimilhanças que infesta a maior parte dos filmes atualmente, particularmente o cinema americano. a personalidade e comportamento dos personagens sofrem sim com os rumos de seus atos, mas na conclusão da estória você se dá conta de que na verdade não há mudança, e sim uma evolução, uma reafirmação do caráter dos personagens. Belo filme, que surpreende até um sujeito irritado com a banalização político-ideológica como eu. Recomendadíssimo!
Até ver este filme não tinha qualquer contato com seu cinema. No entanto, para alguém informado e que goste realmente de cinema, não é difícil ficar sabendo da existência dele. Egocêntrico, metido, presunçoso. Não sei se tudo acaba sucedendo em um bom filme no caso dos outros filmes, mas em Swimming Poll – A beira da piscina tanta pretensão procede, assim como costuma acontecer com Lars Von Trier. O filme versa sobre Sarah Morton, uma escritora inglesa à moda de Aghata Christie, que tem uma crise criativa, pois pretende mudar o rumo de sua carreira, ao menos no que toca seu próximo livro. Sabendo disso, seu editor oferece sua casa de veraneio em uma pequena e agradabilíssima vila da França para que Sarah possa ter o relaxamento e renovação necessários para seu trabalho. Depois de pouco tempo lá, e já tendo iniciado um novo livro, ela acaba por ter que dividir a casa (e seu cotidiano), com a pouco ortodoxa e libertina filha francesa, e bastarda, de seu editor. As personalidades de ambas, como era de se prever, não tem qualquer afinidade, e está então lançado o conflito. Nada mais deve ser dito sobre o filme já que tudo são ambiguidades, e essa é a graça do filme, com um roteiro muito bem costurado. Apenas fica aqui o registro: nada é o que parece ser e tudo é o que parece ser. Ao menos, esse deve ter sido o desejo de Ozon: refletir sobre as várias leituras possíveis de uma obra artística. Visitas a foruns como os do mega portal de cinema imdb.com são divertidíssimas, tão logo se conclua a apreciação do filme.
Deixe um comentárioOnze curtas de onze minutos e nove segundos. Os números aqui remetem aos acontecimentos ocorridos na New York de 11 de Setembro de 2001. Mas esta seria uma das únicas regras estabelecidas aos onze diretores convidados para colaborar cada um com um curta que integrasse ao projeto do francês Alain Brigand. Afora o fato de que a inspiração para os curtas partisse do atentado de 2001 e a duração dos mesmos foi dada total liberdade aos diretores dos mais distantes recantos do mundo. Os resultados são, geralmente, bastante interessantes e, por vezes, insatisfatórios. O diretor mais criativo foi mesmo Sean Penn, que causa espanto e risos com seu uso das sombras das torres gêmeas. As tentativas mais humanitárias foram do mexicano Iñarrítu e da indiana Mira Nair, infelizmente seus episódios suspenderam juntos, e cada um a sua maneira, uma pieguice que incomoda. O curta mais equivocado é o do egípcio Youssef Chahine: encerram-se seus onze minutos e você acaba perguntando pra si próprio se Kika foi mesmo a pior coisa que já viu. No mínimo merece estar ao lado do filme de Almodóvar. Por último, temos o curta mais sem relação com o fatídico 11 de Setembro, no qual um soldado japonês volta da guerra exibindo comportamento idêntico ao de uma cobra. O curta de Shohei Imamura só poderia mesmo ter vindo daquela parte do oriente, responsável por algumas das invenções mais idílicas do planeta. O que não necessariamente é sinônimo de qualidade…
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