Em 1995 o diretor Richard Linklater produziu um clássico cult chamado “Antes do Amanhecer”. O projeto, apesar de independente, extremamente simples e concentrar-se em apenas dois jovens atores – o americano Ethan Hawke e a francesa Julie Delpy – era super ambicioso: o argumento resumia-se tão somente a um casal de estrangeiros que se “esbarram” por um acaso em uma viagem de trem para Viena e decidem – já que dispõe de tempo livre até o próximo amanhecer, quando retornarão para seus respectivos países – passear pela capital austríaca e travar um desvendamento de suas personalidades – tudo na brevidade do tempo que eles dispõe. Nove anos depois, uma sequência é produzida, preservando praticamente a mesma estrutura do primeiro filme: os dois personagens se reencontram, ambos mais velhos, bem menos ingênuos e com uma experiência de vida já formada; Jesse é um escritor, tem um filho, casado por puro conformismo social e Celine é uma ativista ambiental algo neurótica e compositora nas horas vagas. Assim, enquanto eles passeiam pela cidade, travam discussões sobre uma vastidão de assuntos, filosofando sobre política, sexo, amor, a condição humana, a morte, o envelhecimento, relações afetivas, desilusão, frustação, a inevitabilidade de pequenas decisões na vida futura. É a repetição da mesma fórmula do primeiro filme. E, deste modo, a sequência repete o mesmo erro do filme original: o universo da discussão é tão vasto que tudo soa forçosamente intelectualizado e pretensioso. Como o filme inteiro não passa disso, o longa fica bastante chato e, apesar de toda a pretensão discursiva, desinteressante. Há apenas duas coisas que podem manter a atenção do expectador durante o longa, em meio ao falatório. Primeiro, o carisma dos atores e de seus personagens, já que estes são construídos e vividos com muita naturalidade. Segundo, o interminável discurso fica menos pesado e arrastado para aqueles que assistiram os dois longas da maneira que foi planejado, ou seja, tendo experimentado nove anos de intervalo entre o lançamento de um e do outro, o mesmo intervalo de tempo que os personagens enfrentaram até reencontrarem-se. Isso porque os personagens são reflexo do tempo que vivem e da faixa etária em que se encontram e, assim, o expectador que assistiu o primeiro filme em 1994 e a sequência no seu ano de lançamento vai se identificar com os sentimentos e com a visão de Jesse e Celine sobre o estado das coisas hoje. Tirando estes dois aspectos, “Antes do Pôr do sol” se torna um pouco irritante, assim como já era “Antes do Amanhecer”, há praticamente dez anos atrás. É uma experiência interessante a de acompanhar o amadurecimento e as mudanças na vida de dois personagens, bem como avaliar as mudanças pelo qual passa o mundo, através da conversa destes – porém, nunca passa de apenas um interesse sem muita relevância. Mais do que qualquer coisa, é um filme feito para os fãs da primeira parte. De resto, não arrebata.
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Em uma típica escola secundária americana, temos contato com alguns de seus funcionários e alunos, retratados nos instantes que precedem uma tragédia.
O cineasta americano Gus Van Sant é capaz de tolices como “Gênio Indomável” e coisas deploráveis pela simples idéia da existência, como a refilmagem de “Psicose”. No entanto, ele é um cineasta talentoso, o que lhe falta de quando em quando é bom senso em seus projetos. E, felizmente, um dos seus últimos trabalhos demonstra isso. “Elefante” é ficção apenas no que compete aos personagens e o local da tragédia, já que retrata um dos eventos que mais chocou a sociedade americana, o massacre da Columbine High School por dois de seus alunos. Tendo projetado este filme como um retorno seu ao chamado “cinema idependente” – retorno que na verdade iniciou-se com “Gerry” -, o diretor faz as escolhas técnicas exatas para sustentar este clima. Os atores são todos amadores, recrutados na região em que foi rodado o filme e exibem a naturalidade ideal para seus papéis. As sequências são, em sua maioria, filmadas em ininterruptos planos longos, muitas vezes com o personagem central da cena caminhando e sendo filmado de costas para a câmera. A trilha sonora é quase inexistente, excetuando-se alguns trechos sonorizados, em grande parte, por peças de Beethoven. Os diálogos retratam situações e temas cotidianos de uma escola e seus “habitantes”, sem qualquer ligação entre si, já que os personagens retratados não necessariamente se conhecem. A fotografia do filme é de uma assepsia esplendorosa, deixando na tela uma imagem limpa e cristalina. A cenografia, por sua vez, retrata um ambiente repleto de angulos retos e corredores intermináveis, o que reforça a idéia de um ambiente frio e sisudo. Todos estes elementos, junto com essa fotografia tão asséptica, montam o painel de um ambiente onde, teoricamente, impera a inocência e a inexperiência. Contudo, Van Sant consegue expor em breves momentos todo tipo de conflito que faz parte da faixa etária dos personagens retratados: a rejeição e a perseguição por outros alunos e mesmo por professores, o isolamento daqueles que são vistos como diferentes, o flerte e as festas inconsequentes, a bulimia adolescente, os problemas com membros da família, cujos integrantes adultos as vezes se mostram mais imaturos e problemáticos do que os mais jovens, a reciprocidade e carinho entre colegas, a descoberta e experimentação sexual. Isso tudo acaba criando um contraste com a placidez composta pela parte técnica do longa-metragem e retratando o que de fato compõe o ambiente escolar, cujo cotidiano é, para alguns, repleto de injustiça, sofrimento e incompreensão. Porém, Gus Van Sant é inteligente o bastante, ao menos neste seu retorno ao cinema independente, para ignorar com veemência a tola mania americana de buscar razões, “porquês” e motivos para tudo, coisa que só satisfaz ao puritanismo do povo americano, que busca sempre usar esta metodologia para construir uma comparação com si mesmos para que entendam-se como “saudáveis” e “normais”. Assim sendo, o diretor expõe possíveis mazelas, mas não as torna motivos determinantes: talvez as injustiças e a violência cotidiana que os personagens sofressem tenha servido de motivação torpe para cometer uma atrocidade, talvez seja consequência do seu ambiente familiar algo desajustado ou indiferente, talvez a pueril sociedade americana, construída em cima da idéia de que o mundo se divide em vencendores e perdedores, onde estes últimos sempre são considerados como tal por não se encaixarem nos moldes definidos, talvez seja ainda a obssessão americana por armas e pela cultura do medo, que propicia a capacidade de compra de armamento pela internet e de entregá-las, pelo correio, nas mãos do primeiro que abrir a porta, ou talvez nada disso justifique e os que perpetraram tamanha desgraça sejam apenas desajustados. Junto com esta característica, o outro grande trunfo do filme é conseguir sustentar um clima de contínuo suspense, usando como artimanha um roteiro muito bem construído que mostra praticamente todas as sequências como acontecimentos simultâneos com diferentes personagens, todos tendo como desenlace o massacre que encerrou a vida de muitos, e levando as cenas até o seu limite apenas para cortá-las no momento crucial. Isso resulta em um desnorteamento do expectador, que não faz idéia de quando a desgraça cairá sobre aquele lugar repleto de aparente tranquilidade e com algo incomodamente opressivo.
“Elefante” é um ótimo representante da técnica, raciocínio e inteligência, que são marcas do cinema que interessa, mostrando que muitas vezes os cineastas deixam seu talento ser eclipsado pela sede comercial, que produz espetáculos milionários e desmiolados. Gus Van Sant tomou a decisão de dar uma nova guinada em sua carreira na hora certa, conseguindo com este belo filme fazer com que críticos e fãs de cinema do mundo inteiro esquecessem o imenso erro que cometeu ao regravar o grande clássico de Alfred Hitchcock. E não é sempre que algum artista consegue superar um estigma tão negativo – ponto para a competência quase destituída do cineasta americano, que acordou de um longo sono e mostra-se, novamente, promissora.
Will Turner e Elizabeth Swann, no dia de seu casamento, são condenados à morte por terem auxiliado na fuga do pirata Jack Sparrow. O comodoro Cutler Beckett, responsável pela acusação, faz um acordo com Will, propondo a retirada de todas as acusações, caso o jovem lhe traga a bússola do Capitão Jack. Will aceita o trato, levando consigo um contrato de trabalho para a marinha mercante como oferta de barganha pela bússola. Porém, Jack está mais preocupado em salvar-se de cumprir o terrível acordo que fez com o lendário Davy Jones, capitão do lendário e temido navio “Flying Dutchman”. E, a essa altura, claro que Elizabeth já, partindo ao encontro de Will.
A sequência de um dos maiores êxitos do cinema americano nos últimos anos consegue ser tão divertida quanta a sua primeira parte, mantendo todos os predicados que fizeram seu sucesso. No campo das atuações, Johnny Depp está novamente impagável como o pirata Jack, Keira Knightley diverte como Elizabeth e Orlando Bloom não incomoda como Will – certamente sua atuação mais simpática até hoje. No que se refere aos aspectos técnicos, o filme prossegue impecável, com cenografia irretocável, efeitos especiais elaborados, maquiagem impressionante e fotografia que sustenta o clima de sobrenatural e fantasia até debaixo de sol escaldante. Quanto ao argumento, os roteiristas reservaram no novo longa uma enormidade de sequências de ação bem boladas que, certamente, irão satisfazer a platéia mais afeita ao cinema comercial. Contudo, é justamente no roteiro que residem os problemas deste longa-metragem. Primeiro, há de se admitir que esta sequência baseia-se em acontecimentos que assemelham-se muito aos do longa anterior, já que todos os eventos se desencadeiam pela maldição que aflige – mais uma vez – o pirata Jack e pela sua tentativa de barganahr para livrar-se desta ameaça. Segundo, o encadeamento das situações está por demais intrincado e, não raro, o expectador se pega tentando entender algum evento passado, ao mesmo tempo que tenta não perder-se naquilo que se desenrola na tela no momento. E mesmo com este esforço do público, um terceiro problema insiste em manter a confusão, já que há coisas que o filme não se dá ao trabalho de explicar mesmo – ao menos nesta segunda parte -, e perguntas como estas acabam persistindo: “Como ele foi parar nessa caixão?”; “Afinal de contas, esses dois mortos-vivos deveriam estar os ajudando?”; “Ops! Ele morreu, o que vão inventar agora?”; “Oooops! Esse aí não estava morto e acabado???”. É certo que o epílogo da trama pode se encarregar de responder algumas dessas questões, contudo, isso acaba problematizando o argumento, que acaba tendo que se virar em criar infindáveis rodeios para satisfazer as dúvidas – o que, a meu ver, acaba empobrecendo a trama e não convencendo o expectador mais exigente.
Assim sendo, o filme cumpre muito bem com o objetivo de entreter, enchendo os olhos com sequências empolgantes, mas peca por uma certa preguiça, bagunçamento e ansiedade argumentativa. Acaba funcionando mas, espera-se, mesmo que sem muita esperança, que a inevitável sequência da trama corrija ao menos alguns desses aspectos negativos do filme.
Depois de uma ausência de cinco anos à procura de reminescências de seu planeta natal, Superman/Clark Kent retorna à Terra, encontrando um planeta que rapidamente se adaptou à esta situação. Para sua maior surpresa, Lois Lane, seu grande amor, casou-se e teve um filho durante este tempo, sendo ainda premiada por um artigo que questiona a importância de Superman na Terra. Não bastasse estar sofrendo com isto, Superman vai logo descobrir que seu arquinimigo, Lex Luthor, está livre da prisão – por sua culpa – e tramando, em segredo, um plano para destruir o continente americano e construir um novo, tudo com a ajuda dos cristais kryptonianos.
Bryan Singer capitulou a produção do terceiro episódio da cinesérie “X-Men”, em detrimento da criação do ambicioso e quase desacreditado projeto do retorno do Homem de Aço, que passou anos na “geladeira”. Ao ser divulgada a entrada do diretor na produção, os fãs dos herói dos quadrinhos e do cinema tiveram a certeza de que, desta vez, o “novo” filme se tornaria realidade, mas tiveram uma pequena ponta de desconfiança pelo que sairia dali, visto que a produção se arrastava há anos e vários roteiros foram escritos, somente para serem descartados pelo texto de outro roteirista. Essa espera, por sinal, deve ter sido a maior contribuição para composição deste roteiro um pouco confuso, que não se decide entre ser uma readaptação do primeiro filme ou uma recriação da estória do super-herói. Essa característica é o mote maior dos críticos mais ferrenhos, que declaram que esta estória não passa de um “maquiamento” do roteiro da primeira aventura do herói no cinema. De fato, a crítica faz algum sentido, já que a obsessão de Luthor continua sendo a construção de um novo continente, e os meios para tanto acabam sendo semelhantes aos adotados pelos personagem no filme de 1978. Isso acaba sendo, de alguma forma, repetitivo, claro. Porém, apesar deste fato acabar prejudicando um pouco a originalidade da estória, deve-se também reconhecer que este roteiro tem como suas maiores qualidades justamente a simplicidade, descartando um argumento voltado para a ação ininterrupta e com intermináveis cenas de batalha, sem deixar de apresentar sequências repletas de tensão e com excelentes efeitos especiais, e dando ênfase ao lado mais emocional do roteiro, conseguindo cativar e emocionar o expectador justamente ao apresentar os conflitos pessoais do herói – é este, sem dúvidas, o mote maior do filme. Talvez por isso mesmo o personagem que mais cative neste novo longa – novo ou como queira classifica-lo – seja o próprio Superman, além do garoto que faz o filho de Lois, que tem pequena mais importante participação. E já que falamos nos personagens, é bom informar que os atores tem boas atuações, sem nenhum grande arroubo, justamente porque este não é um filme onde as atuações tenham a obrigação de serem excepcionais ou arrebatadoras, mas apenas de serem feitas de maneira calculada à se encaixarem no perfil dos personagens: Brandon Routh encarna tão bem o super-herói quanto o seu interprete mais famoso, Christopher Reeve; Kate Bosworth faz a sua Lois Lane da maneira certa, bem como James Marsden fazendo um marido obrigatoriamente apagado e sem sal e o filho do casal, cujo ator consigue obter a simpatia do público e não apresenta o artificialismo corriqueiro dos atores mirins. O maior defeito do longa-metragem, na minha opinião é o Lex Luthor de Kevin Spacey: é certo que a presença do vilão na tela é bem menor do que a do protagonista – mesmo porque, como eu já disse, isso é consequência da ênfase nos conflitos pessoais do Superman/Clark Kent -, mas também é verdade que este Luthor não chega próximo da graça, ironia e charme do intepretado por Gene Hackman em 1978, acabando como um vilão meio apático. Contudo, não posso deixar de frisar um aspecto importante relacionado à este problema: é fácil competir com Christopher Reeve, mas não é uma tarefa das mais traquilas fazê-lo contra Gene Hackman – justiça seja feita.
Sendo assim, “Superman – o Retorno” traz algumas surpresas e novidades para o desenvolvimento futuro da estória do herói nos cinemas, mas chega bastante calcado na segurança e na cautela de não alterar radicalmente a mitologia do personagem, o que me leva à discordar da maior parte das críticas, resenhas e comentários formulados até agora, que afirmam que parte do público pode não gostar das consequências da estória no rumo do personagem ou da falta de ação no filme. Isso é bobagem, não há nada ali que vá descontentar efetivamente mesmo os fãs mais ferrenhos: não há nenhuma audácia que vá ofender os mais puristas e, para os desinformados, Superman sempre foi um herói mais emotivo e humano – apesar de, a rigor, não sê-lo -, sendo seus filmes muito mais voltados para este aspecto do que para a pancadaria pura e simples. O diretor Bryan Singer cumpriu o seu papel, trazendo um belo longa-metragem que, certamente, vai emocionar o público com o sofrimento de um dos heróis mais famosos do mundo. Não cometa o deslize de perder a oportunidade de ver este longa nos cinemas e vá aguardando desde já a sequência desta retomada do Homem de Aço, prometida para 2009.
Homem pacato rompe relacionamento com jovem impulsiva e inconsequente, desconbrindo logo depois que ela passou por processo para apagar, efetivamente, qualquer lembrança que tivesse do relacionamento que tiveram. Mesmo inconformado, mas para evitar que sofra ainda mais, ele resolve passar pelo mesmo processo para esquecê-la de uma vez por todas. No entanto, enquanto sofre o “apagamento”, ele acaba mudando de idéia e luta para preservar suas lembranças.
Eu tinha uma enorme implicância com esse filme, evitando por muito tempo assisti-lo por dois únicos motivos: 1) o roteiro do filme é de Charlie Kaufman; 2) o longa conta com a protagonização de Jim Carrey, em mais uma tentativa de mostrar sua competência em um papel dramático. Porém, eu não tinha me dado conta da direção, à cargo de Michel Gondry.
Michel Gondry é mais conhecido pelo seu trabalho na direção de videoclipes, mas resolveu expandir as suas habilidades ao aventurar-se neste longa. Genial, inventivo, mas bastante comedido, Gondry tomou as rédeas da produção e, aparentemente, impôs o seu estilo, polindo, controlando e limitando a personalidade caótica e megalômana tanto do co-roteirista Kaufman quanto do protagonista Carrey. Para o bem de seu filme, a contribuição de Gondry no roteiro do longa potencializa as qualidades do trabalho de Kaufman, e sua direção cuidadosa consegue fazer o que nenhum diretor conseguiu fazer adequadamente até hoje: uma atuação dramática convicente e sensível do comediante Jim Carrey. E a maneira como os personagens conseguem tocar o público não é apenas graças ao excelente desempenho dos atores, mas à atenção do diretor à esse aspecto do filme. Mesmo concebendo seu filme como um exercício de loucura e surrealismo, com excelentes soluções visuais e sequências concebidas para exteriorizar a mente e as lembranças do personagem, Michel Gondry não se deixa vencer pelas suas próprias artimanhas, deixando espaço para que os atores façam o seu serviço e conquistem a simpatia do público. Desta forma, os atores conseguem fazer com que a estória dos seus personagens, bem como a paixão que o casal de protagonistas tem um pelo outro, nunca seja eclipsada pelo argumento idiossincrático do longa-metragem.
“Brilho Eterno de uma mente sem lembranças” surpreende, mostrando que além de um excelente filme que aventura-se por extravagâncias pós-modernas também é um longa-metragem, equilibrado, sensível e tocante, à imagem das melhores comédias românticas americanas. Vamos aguardar pelo próximo trabalho de Gondry, “The Science of Sleep”, que conta com a participação de Gael Garcia Bernal, torcendo para que ele mantenha o equilíbrio de seu trabalho e não se perca como a dupla Jonze/Kaufman fez no irritante “Adaptação”.
Garota é submetida a exorcismo e nao sobrevive. Em pouco tempo, o padre que efetuou o ritual é julgado pela possibilidade de ter impedido o tratamento médico de um possível quadro de distúrbio psicológico, o que teria resultado na morte da garota. No julgamento, ele conta com o apoio da familia da jovem e de uma advogada que volta de um caso vitorioso.
Scott Derrickson disse que sua intenção era construir um longa-metragem híbrido, uma mistura incomum de drama de tribunal com filme de terror, sem o uso abusivo de efeitos especiais. Para sua felicidade, o seu objetivo foi realmente alcançado – o problema é que tal realização tem seus efeitos negativos. Diante da sobriedade e frieza intrínsecas à narrativa cinematográfica ambientada em tribunais, a modalidade de terror/supense do filme perde seu impacto, deixando de exercer o seu traço mais importante: o apelo às emoções do espectador. E isso não é consequência tão somente do uso escasso de efeitos. Na verdade, foi a intenção confessa de construir uma película que diferisse enormemente do maior clássico do gênero, o filme “O Exorcista”, que acabou contribuindo para a concepção fraca das sequências de horror do filme, tanto na construção do roteiro como na materialização das cenas, que são plasticamente bonitas – com bela fotografia e cenografia muito bem planejada – mas terror mesmo, elas não tem nenhum. O desempenho pouco animador dos atores também colabora para o fracasso do filme enquanto thriller de horror: suas interpretações são até convincentes, mas não conseguem atingir o público e estimular os seus medos.
Apesar do fracasso como filme de terror, o longa-metragem tem o seu maior e único êxito na sequência que explica a estranha decisão da jovem Emily em submeter-se à uma segunda sessão de exorcismo, no seu suposto e breve contato com forças divinas – é ali o único momento em que o filme consegue alcançar o expectador e mexer com suas emoções e temores.
Ao fim, resta apenas lamentar o planejamento tão equívoco de um filme que anunciava ser tão promissor. A ambição desmedida de diretores estreantes, muitas vezes, acaba mais atrapalhando do que ajudando a realizar obras que renovem o cinema mais comercial. É preferível limitar suas intenções e propor uma obra mais coincidente com a tradição do que falhar na esmeros de inovação e acabar com uma obra incoerente e débil nas mãos.
Diplomata americano radicado em Roma, afilhado do presidente americano, descobre que seu filho morreu ao nascer, e decide aceitar a proposta de adotar um bebê que nasceu no mesmo instante que o seu, fazendo-o sem, no entanto, revelar o fato á sua esposa. É quando a criança atinge os cinco anos de idade que o então embaixadaro americano em Londres descobre que seu filho é destinado a mudar o mundo radicalmente, e para pior.
Ninguém segura a sede insana de regravações de Hollywwod, sendo o clássico “A Profecia” de Richard Donner, a mais recente vítima. Se limitarmos a análiser ao filme de John Moore o desastre não chega a se revelar em sua plenitude. Trata-se de um longa que investe no terror tradicional, procurando construir o horror e suspense a partir de seu argumento, e não através dos efeitos especiais pontuais que utiliza. O elenco é não consegue despertar a empatia necessária e a trilha sonora resume-se ao lugar comum das músicas de filmes de suspense, sem demonstrar vida própria. Ao fim, temos um filme de suspense baseado em idéia primorosa, mas que realiza-se como filme de terror fraco, sem nem mesmo despertar qualquer sensação próxima do medo ou ansiedade.
Porém, se basearmos a crítica comparando as versões, a tentativa de contemporaneizar a estória se mostra ridícula. O competente elenco do filme clássico foi substituído por equivalentes sem qualquer peso – e digo isso mesmo nutrindo alguma simpatia por Liev Schreiber e Mia Farrow. O garoto que interpreta o Anticristo infante tem realmente um bom desempenho no seu papel, conseguindo demonstrar algo de demoníaco na sua expressão. No entanto, este que seria o maior trunfo do filme, acaba revelando-se um grande equívoco, se comparado ao desempenho ingênuo e naturalmente infantil do menino que ganhou este papel no clássico de 1976. A razão é muito clara para qualquer um que acompanhou a série original: faz todo o sentido que, aos cinco anos de idade, o antiscristo se mostre uma criança ingênua como outra qualquer – ainda que algo estranha -, já que, na excelente sequência de 1978, o então adolescente Damien passa por um momento de conflito e não-aceitação de seu destino, ao descobrir que é o enviado de Satanás. Desta forma, se os produtores do Hollywood seguirem a péssima idéia de regravar toda a série, o comportamento do jovem anticristo no segundo filme já não fará sentido, diante do comportamento que apresentou quando criança, nesta nova versão de 2006. Isto configurou-se como seu maior defeito, ao lado do traço mais medíocre do longa-metragem: a trilha sonora. Diante do esplendor demoníaco da melodia de Jerry Goldsmith – veja o post abaixo – e sua bacanal de corais gregorianos diabólicos, acompanhados de orquestração usurpante, a trilha criada por Marco Beltrami para o “novo” filme parece brincadeira de mau gosto: é uma música tacanha, tímida e atrofiada, que não consegue, nem de longe, despertar o medo e ansiedade que a trilha original explorava no público, em conjunto com as cenas que acompanhava. A readaptação do roteiro, feita pelo próprio David Seltzer, mentor da idéia original, mostrou-se bastante fiel ao tomar algumas liberdades sutis, modificando levemente algumas sequências ou criando outras, o que não contribui em absolutamente nada para um maior clima de suspense, visto que os outros aspectos negativos do filme já o compremetem.
“A Profecia” de 1976 é verdadeiramente profano, com uma atmosfera de terror e suspense densa que atinge os temores da platéia. “A Profecia” de 2006 é pueril, com uma direção que se esmerou tanto em não querer repetir o filme original que acabou também, assim, desprezando tudo aquilo que, em conjunto, fazia a qualidade do longa-metragem clássico, resultando em um filme inofensivo e desatento. Concluindo, o filme de John Moore comporta-se da maneira que todos imaginavam, ensaiando ousadias na adaptação que só servem para lembrar o quanto o longa original, idealizado por Richard Donner, é charmoso e deslumbrante. Foi uma tentativa inútil, já que nada que fosse feito diante de referências tão fortes, como as do filme de 1976, teria qualquer possibilidade de superá-las.
No advento da Segunda-Guerra Mundial, especialista em substâncias químicas para limpeza e tratamento da água é contactado e incluído na força nazista da SS. De fé católica, ao descobrir o uso que os oficiais nazistas fazem de seus conhecimentos em química, o agora agente do império ariano tenta advertir a igreja sobre o extermínio de judeus e acaba recebendo a ajuda de um padre com contatos no alto escalão da organização do Vaticano.
Costa-Gravas é conhecido pelos seus projetos polêmicos, e este filme não foge à regra. A produção francesa é contundente e ousada ao retratar a tolerância de grande parte do clero e da administração da igreja católica romana aos atos da “solução final” da Alemanha nazista – o filme chega a sugerir, na sua sequência inicial, a participação de algumas instituições relacionadas ao Vaticano no extermínio de inválidos internados para tratamento. Diretor cujo cinema é politizado e engajado, Costa-Gavras revela o cinismo do Vaticano em refutar a existência dos campos de extermínio e o temor do alto clero devido as implicações políticas no advento do envolvimento da instituição religiosa no conflito, já que a eventual vitória da investida Nazista no território da União Sovitética interessava ao Vaticano. Além disso, a hipocrisia da igreja diante dos atos perpretados pelos alemães nazistas contra judeus, mesmo dentro de território italiano, também é exposta no filme.
Os protagonistas Ulrich Tukur, como o oficial Gerstein, e Mathieu Kassovitz, como o padre Riccardo Fontana, esbanjam excelente performance nos seus papéis – não há como não se compadecer da dor do oficial da SS, que arriscou-se o quanto pode para tentar intervir nos planos de extermínio nazistas, e do martírio do padre católico, que via, pouco a pouco, a instituição em que tanto acreditava definhar diante do comodismo político.
É importante ressaltar que muitos encontrarão semelhanças entre “Amén” e “A lista de Schindler”, do diretor americano – de origem judia – Steven Spielberg. Isso não é por acaso, já que seus argumentos retratam, igualmente, alemães em conflito com os atos da ditadura de Hitler. No entanto, a abordagem de cada um dos filmes difere bastante: enquanto Spielberg se esbalda em utilizar-se de sequências que retratam os requintes de crueldade da violência do regime nazista contra aqueles que perseguia, Costa-Gravas é muito menos gratuito na proposta de seu filme, evitando cair na exploração visual do genocídio, já que compreende que, no seu cinema, a sugestão dos atos perpretados pelos homens de Hitler é suficiente e bem mais eficiente do que a exposição destes. Um bom exemplo disto são as recorrentes sequências em que locomotivas com inúmeros vagões – por vezes com as portas abertas, em outras com estas fechadas – percorrem trilhos por campos tranquilos: ao assisitir o filme sabe-se que a placidez do ambiente exterior – estonteantemente retratado pela fotografia de Patrick Blossier – contrasta violentamente com o temor da realidade do que estaria no interior dos vagões. A trilha sonora também contribui muito para o tom realista do longa-metragem, já que foi composta e conduzida com a supressão de qualquer grandiloquência sonora, que só faria atrapalhar a sobriedade do filme e ofuscar o trabalho excepcional dos atores.
Ignorado massivamente pela mídia quando do seu lançamento, em 2002, “Amén.” está entre a leva recente de filmes que conseguem reutilizar a temática do nazismo e do Holocausto abordando facetas ainda não exploradas pela maioria dos filmes produzidos até hoje, e que só com o devido distanciamento podem ser analisadas de forma adequada – construindo uma narrativa poderosa sem ser apelativa, evitando o sentimentalismo excessivo e ufanismo que os filmes americanos costumam apresentar ao tratar do tema, por exemplo. Depois de deixar-se tomar pela catarse de filmes como “A lista de Schindler” e “O pianista” é sempre bom acalmar os sentidos e promover uma reflexão daquilo que foi visto, explorando uma visão mais abrangente e distanciada sobre a complexidade do conflito – reflexão esta que é bastante facilitada pela sobriedade de filmes como o de Costa-Gavras.
Jean Grey volta de sua suposta morte revelando a sua personalidade inconsciente, chamada de Fênix – até então ocultada por outro X-men -, uma mutante incontrolável que possui poderes inigualáveis e um nível de loucura ameaçador para qualquer ser vivente. Magneto a persuade para lutar ao seu lado contra os humanos e a recém-criada cura mutante, que promete erradicar os poderes de qualquer ser desta raça. É contra ela e a Irmandade de Magneto que os X-Men tem que lutar, tentando salvar os seres humanos.
Quando foi anunciada a troca da diretor da última parte da trilogia X-Men, os fãs ficaram verdadeiramente temerosos – Brian Singer fez um trabalho tão bom, ao transportar para os dois primeiros filmes o grupo de heróis mais adorado do mundo Marvel, que todos tinham certeza de uma queda de qualidade no epílogo da saga. Por sorte, Ratner revelou-se tão bom quanto o seu antecessor. É certo que o diretor tinha em mãos um roteiro excelente que mistura a clássica saga da Fênix Negra com o episódio da cura mutante, mas Brett Ratner soube muito bem como conduzir a ação incessante composta pelos roteiristas Simon Kinberg e Zak Penn – também um dos responsáveis pela estória do segundo filme – sem perder de vista a coerência com os efeitos do argumento sobre o destino dos personagens. E atenção com relação a esta última característica da estória – os realizadores do longa não tiveram qualquer pudor em exterminar ou alterar o rumo de alguns dos X-men que mais simbolizam o grupo – isso, ao menos, até a possível próxima sequência. As catástrofes e batalhas boladas pelos roteiristas são espetaculares, bem como os efeitos especiais concebidos para torná-las o mais real possível – as sequências da casa de Jean Grey e da ponte Golden Gate são desde já memoráveis na história das adaptações cinematográficas de quadrinhos. Os atores continuam encorporando muito bem seus personagens, e aqueles que tem participação reduzida fazem o que podem em seus respectivos papéis. Tempestade, Wolverine a própria Fênix continuam encabeçando a empreitada, mas finalmente temos a tão aguardada participação da Lince Negra – Kitty Pride era uma das mutantes pela qual eu nutria imenso carinho nos gibis; e repare a excelente atriz que faz o papel: é a cara da Simone Spoladore -, que ganha destaque considerável na estória, e a participação importante do Fera. No entanto, o maior defeito dos dois primeiros filmes persiste aqui: os mutantes já apresentandos, junto com os personagens introduzidos no novo longa, acabam totalizando tantos papéis que o argumento sempre acaba sem explorar boa parte dos mutantes. Colossus continua subaproveitado, bem como a presença ínfima de Cíclope e a estréia morna, e algo tola, de Anjo – mas o pior aqui foi mesmo o inexplicável sumiço de Noturno. Alguém aí sabe onde ele foi parar?
Apesar disso, é impossível discordar de que a abordagem dos produtores neste capítulo “final” foi corajosa: não é nada fácil tomar a decisão de selar radicalmente ou alterar o destino de alguns personagens tão amados pelos fãs de quadrinhos. Obviamente, é bem provável que seja concebida uma nova trilogia para a saga – eu diria quase certo -, mas isso não garante um retorno dos personagens mortos na sequência. Espera-se que o já anunciado spin-off da série, o filme Wolverine – no qual poderemos aproveitar melhor a caracterização absurdamente perfeita e enlouquecedoramente viril de Hugh Jackman, gostosíssimo como seu personagem – traga para o cinema outros heróis ou explore ainda mais personagens já apresentados. Porém, limitando-se apenas ao episódio final da trilogia, o longa “X-Men: o confronto final” acabou revelando-se uma conclusão adequada da série, com a presença do já citado defeito, já existente desde a sua gênese. Agora, resta torcer para que a ambição dos produtores americanos já esteja trabalhando à nosso favor, maquinando cuidadosamente uma segunda trilogia que aprimore ainda mais o desenvolvimento da série.
OBS: não cometa o mesmo erro que cometi, saindo do cinema logo que começam os créditos: uma importante cena extra foi colocada no fim destes.
7 ComentáriosQuer ver o filme em casa mesmo? Então experimente baixar os arquivos a seguir e montar os seus VCDs. Não faço ideía quanto a qualidade, mas quem se arriscar baixando-os pode comentar a qualidade de imagem e som para os outros usuários, ok?
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