Documentário que reune a opinião de artistas, e um pouco do cotidiano de gente comum, centrando-se em como a língua portuguesa e a colonização deste povo influi e integra a vivência destas pessoas.
O “ser” lusitano – ainda que apenas descendente ou por criação – é aqui investigado de maneira fascinante para qualquer falante desta língua: não há como não se emocionar ao se dar conta de que, apesar das evidentes e inevitáveis diferenças, há afinidades eletivas que nos unem todos, e nos quais podemos nos reconhecer mutuamente – o desprendimento, a tradicão da refeição do “café” à mesa, a fé desmedida na religião, o amor pela música. Quando se concentra em pessoas anônimas, o diretor Victor Lopes prefere não indagar sobre a língua e o lusitanismo, preferindo evitar uma filosofia popularesca e ocupando-se em montar um breve painel da personalidade delas e do cotidiano vivido por estas pessoas. Desta forma, Lopes atingiu seu objetivo mesmo sem tocar propriamente no assunto, utilizando-as como ilustração da discussão formada pelos protagonistas mais famosos do documentário. E é quando o assunto entra em pauta que os momentos de maior beleza surgem: Teresa Salgueiro e Pedro Ayres Magalhães – da banda Madredeus – , o compositor Martinho da Vila, os escritores Mia Couto, José Saramago e João Ubaldo Ribeiro falam de maneira franca sobre esta alma coletiva que habita todos aqueles que pertençam de alguma maneira aos povos lusitanos. Tão intraduzível para todos os outros povos quanto a palavra “saudade”, somente os que tem a sorte de integrar uma das culturas mais ricas, belas e anfitriãs do mundo tem a capacidade de compreendar a totalidade do que está ali tão bem retratado. Documentário de apreciação obrigatória para todos àqueles que compreendem o quanto é maravilhoso ser um dos mais de 200 milhões de lusos pelo mundo.
Tag: brasil
E Marisa Monte renasceu. Foram anos lançando álbuns medianos ou absolutamente dispensáveis. Porém, sempre é tempo de demonstrar bom senso. E a cantora e compositora brasileira decidiu que já era hora de fazer isso. Universo ao meu redor, álbum-irmão de outro lançamento simultâneo de Marisa, é definido por ela como um disco que detém a “atmosfera do samba”. Isso é bobagem, é Marisa querendo ser pós-moderna ou pseudo-humilde, sendo que este último não cabe muito bem à ela. Se este não é um disco de samba eu não faço idéia do que poderia ser.
O álbum é composto de alguns sambas que, até então, tinham registros apenas orais, ao lado de composições recentes da cantora e seus parceiros habituais – e outros ainda que estréiam no repertório da cantora. De beleza tranquila, quieta, sem arroubos estilísticos-sonoros, o disco abandona a pretensão exibida pela cantora nos últimos anos e retorna à um som mais puro e despido, como o de seu melhor disco até hoje Verde, anil, amarelo, cor de rosa e carvão. Ao deixar de lado o irritantemente presunçoso delírio pop que mostrou sua sombra em Barulhinho bom, foi expandido em Memórias, crônicas e declarações de amor e que atingiu seu ápice em Tribalistas, Marisa deixa aflorar seus melhores predicados e exibe maturidade musical fulgurante. Assim sendo, todas as faixas tem valor e beleza, mas há composições de beleza infinda que se destacam, como “O bonde do dom”, que emociona com seus versos melancólico-urbanos e sonoridade que mistura o clássico do ritmo brasileiro com discretíssimos toques modernos, como um teclado Hammond sutilíssimo. “Vai saber?”, composta pela sempre fenomenal Adriana Calcanhotto, ganha arranjo à altura, com violas sofridas mescladas à harpas delicadas e vocais de fundo sobrepostos. A faixa que abre e dá nome ao disco, “Universo ao meu redor”, tem letras e melodias lírico-bucólicas, revelando a beleza imensa das pequenas coisas da vida que nos cercam. “Satisfeito” que traz mais bucolismo em suas letras, moderniza com uma batida eletrônica e acordes de guitarra que sabem seu lugar dentro de uma música que pisa forte no terreno do samba. E em mais uma bela canção de desapontamento amoroso e superação afetiva, “Lágrimas e Tormentos” segue a tônica melódica do disco, misturando a instrumentação tradicional do samba com toques suaves de sonoridades menos comuns ao ritmo, mas que se adaptam com maestria.
É maravilhoso, depois de tanta decepção, comprovar que uma artista do calibre de Marisa tem e teve sempre a capacidade de construir belas obras como o álbum em questão. Felizmente, os males da contemporaneidade – como a massificação, industrialização e populismo artístico, em voga desde meados da década de 90 – mostram que podem sim saturar os artistas que por eles se (des)aventuraram. Para o bem da arte e de todos nós. Baixe o disco usando qualquer um dos links que seguem depois da lista de faixas.
http://rapidshare.de/files/15366312/Universo_Ao_Meu_Redor.rar.html
http://d.turboupload.com/d/429298/Universo_ao_meu_redor.rar.html
http://rapidshare.de/files/17426317/MM-UAMR.rar.html
http://rapidshare.de/files/15292598/Marisa_Monte_-_Universo_ao_meu_redor.rar.html
1 comentárioNo início dos anos 90, Alex sobrevive como garçonete em Lisboa com o namorado saxofonista que, na verdade, só consegue se sustentar participando como intermediário no contrabando de diamantes. No Brasil, Paco, um jovem universitário desiludido com seus estudos aspira como seu plano maior a carreira de ator. Manuela, sua mãe, sonha fazer uso de suas economias para voltar com o filho para sua terra natal, a Espanha. Porém, mudanças na economia do país gestadas pelo governo Collor vão causar mudanças abruptas na vida do jovem Paco.
Completamente filmado em preto & branco, Terra Estrangeira é uma obra-prima do cinema brasileiro do fim do século passado e o longa-metragem que colocou Walter Salles no rol dos grandes cineastas do país. O filme aproveita, na sua primeira meia hora, a desorientação política pós-ditadura do Brasil para transmitir com perfeita exatidão a desolação, impotência e abandono que os personagens do filme mostram sentir o tempo todo. Ao ser deslocada a ação para Portugal, todos os sentidos se potencializam, e ainda são acrescidos pela esmagadora sensação de falta de identidade. Seus personagens marginalizados e exilados, homens e mulheres que vivem uma vida vazia e desprovida de raízes, só tem como esperança a possbilidade de encontrar alguma motivação no amor: é no romance de Alex e Paco que conseguimos parar e respirar durante o filme, ainda que seja uma respiração suspensa pelo desespero desse amor. Todos os atores tem excelente atuações, mas Fernanda Torres, Fernando Alvez Pinto e Laura Cardoso levam o espectador ás lágrimas com o realismo vsiceral de suas intepretações. É um momento sublime e soberbo do cinema nacional e o argumento fatal para a derrocada daqueles que guardam a idéia ignorante de falta de qualidade da produção cinematográfica brasileira.
Que grande idéia: juntar Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte para produzir um trabalho pensado como um conjunto, algo que diferiria das participações anteriores de cada um em seus trabalhos solo. O nome do disco só potencializava ainda mais esta possibilidade: Tribalistas. Era realmente algo que aguçava o interesse, uma grande possibilidade na música brasileira. O problema é que a coisa ficou só na possibilidade mesmo. Fora duas ou três canções, todo o resto é construído com letras tão impressionantemente pop-imbecis que dá vontade de colocar o CD no microondas na potência 10. Vai explodir o aparelho? Ah, não tem problema…se o CD for junto você já sai ganhando. Vamos parar e observar algumas pérolas da composição tribal: “ja sei namorar, já sei beijar de língua agora só me resta sonhar” – blergh! – “eu gosto de você e gosto de ficar com você meu riso é tão feliz contigo o meu melhor amigo é o meu amor” – alguém tem uma pistola automática? – “mary mary mary cristo cristo cristo cristo mary” – alguém tem um lança-morteiro? Não bastasse o alto-nível da composição de letras a sonoridade ainda surpreende (mal, é claro): ouça o disco inteiro e me diga se não é verdade que ele é quase integralmente feito de canções de ninar. Nossa, Xuxa não teria feito melhor! Se os três queriam, realmente, fazer um disco composto em grande parte por canções de ninar ou em tom delicado, quase infantil, deveriam ter escutado o álbum Universal Mother, de Sinead O’Connor. Este sim é um disco dedicado a crianças, mas (importante), por não ser dirigido a esse público, traz as canções mais belas, delicadas e melancólias sobre o amor à elas que já ouvi em toda minha vida. Provavelmente o melhor disco dela. E não essa estupidez que esses representantes da música semi-alternativa-mas-super-produzida fizeram.
Os três participantes desse embuste deveriam ser processados por falsidade ideológica, porque a mim eles não convencem de que se trata de música tribal. Mas isso vai ficar só na minha vontade mesmo. Como a humanidade é feita de cerca de 80% de idiotas acéfalos, o disco foi um grande sucesso. Que lindo. Enquanto isso as vacas do mundo inteiro vão dormir mais tranquilas agora que temos o disco dos Tribalistas. Ou será por isso que fomos supreendidos por um surto de febre aftosa??? Suicídio bovino? Vejam como lixo cultural pode fazer mal a saúde! Até a animal!
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha indicada para descompactar os arquivos.
senha: seteventos.org
http://rapidshare.com/files/59312333/tribalistas.zip
Deixe um comentárioA filha de uma grande figura da música brasileira. Uma mega-campanha de lançamento. Um especial na calada da noite de um domingo. Comentários disfarçadamente sutis da boca de personalidades da TV. Um disco a preço convidativamente mais baixo do que costuma ter um lançamento. E, temos assim, automaticamente construída uma estrela da MPB, que já no primeiro disco, ora vejam, é elevada a categoria de diva. Os elogios são muitos e não cessam: ela tem um repertório de primeira; ela é uma excelente cantora; ela tem classe e tem um frescor e qualidade que há muito tempo não se vê na música brasileira…há também os elogios que derivam-se da mãe, Elis Regina: ela tem a voz da mãe; ela tem um canto emocionante como Elis; ela tem uma aura na apresentação ao vivo como Elis tinha…Bem, é esse mesmo o problema. Na verdade ela tem todas as qualidades da mãe, mas todas em muito menor grau. É o mesmo estilo, a mesma voz, o mesmo repertório estranho, os mesmos arranjos interessantes, a mesma performance no palco. Mas, se tudo é tão desmedidamente o mesmo, o que me motivaria a ouvi-la e aprecia-la? Entre o original e a cópia não faz nenhum sentido ficar com a segunda. E não há qualquer diferencial em Maria Rita, a cópia, que justifique uma celeuma tão grande. Deve-se, sim, ouvir ainda mais o original, Elis Regina. Maria Rita é boa sim, mas Elis era única e definitiva. E para os fãs que já se declararam como tal, nem bem a moça colocou seu disco no mercado, lamento muito: o primeiro disco de Maria Rita não é nada mais do que o novo disco de Elis Regina. Ainda prefiro os de catálogo.
senha: seteventos.org
http://www.badongo.com/file/4558599
Deixe um comentário