Pelo sobrenone já da pra desconfiar, não? Sim, o cantor David Fonseca é português, mas o moço insiste em compor canções, em sua maioria, na língua inglesa. Porque raios ele faz isso, eu nem imagino, mas sou obrigado a confessar aqui, com o perdão de meus amigos blogueiros e internautas do lado oposto do atlântico: o pop/rock de suas canções me cai nos ouvidos muito melhor no seu inglês sem resquício de sotaque do que no seu português genuíno. A língua portuguesa é linda, é esplêndida, porém acredito que me acostumei tanto em ouvi-la cantada nas matizes da nossa MPB e, no caso da música portuguesa, na tecitura ao mesmo tempo rústica e moderna de coisas como Madredeus que as composições de coloração tão cosmopolita/contemporânea como as de Fonseca nasceram mesmo para ser cantadas na língua inglesa. E neste disco cheio de “sonhos à cores” David caprichou, superando o seu álbum anterior, Our Hearts Will Beat As One, por exibir mais soltura e desprendimento e, a meu ver, por harmonizar melhor o seu vocal um tanto empostado e propenso ao vibrato com os arranjos deliciosos. Contudo, é bom dizer que o “gajo” não deixou de ser um menino ambicioso, como o mostra a bela e brevíssima “Intro”, cuja iluminada reverberação e empilhamento de sonoridades remete à faixa que dá nome ao disco, uma balada feita sobre um violão triste de harmonia reduzida que tem seu magnífico encanto na “ponte” sonora onde guitarra, bateria, piano e baixo revelam-se grandiosos, incontidos e apaixonados. Outras belas baladas do disco são “This Wind, Temptation” – composta sobre um crescendo melódico que inicia-se apenas com violão e guitarra de acordes secos e vocais graves e limpos que logo ganham a companhia de bateria, pratos, palmas e vocais de fundo bem abundantes -, “Kiss Me, Oh Kiss Me” – com melodia composta de violão e piano de acordes doces e matinais, baixo e vocais de fundo harmoniosos e uma percussão que tem seu maior charme nas palmas de cadência suave, assim como suave também é o cantar de Fonseca nesta canção – e “I See The World Through You” – com violões, programação e orgãos de delicadeza noturna.
Contudo, o disco conquista o ouvinte nas faixas mais agitadas, resplandecentes em exultação pop/rock, como acontece nas canções “4Th Chance” – na qual, ao som de bateria e violões de alegre compasso paralelo, metais gritantemente latinos e iluminuras vocais que encorpam ainda mais a parte final da canção, David confessa entender cada tentativa e falha no amor como um caminho para o amadurecimento -, “Silent Void” – onde os versos que pregam o amor como espaço de refúgio de um mundo muitas vezes cansativo são acompanhados pelo compasso sólido e rápido da bateria e do baixo e por vocais e teclados vistosos, “This Raging Light” – cuja intro de acordeão, violão e vocal climáticos é logo suplantada por um ritmo mais acelerado e semi-eletrônico, repleto de loops bateria, programação polifônica e vocais encorpados – e na recriação fulgurante de “Rocket Man” – que conta com vocal farto, profusão de pratos ressoando e palmas, teclados, baixo e guitarras que concedem resplandecente doçura à melodia.
O que garante a satisfação de escutar este novo lançamento do cantor português é o modo com que ele injeta, sem dó, doses fartas de impressões e emoções nas melodias e letras, sem temer em momento nenhum assumir seus ímpetos artísticos, desavergonhadamente mostrando-se um apaixonado por melodias hora repletas de doçura, hora recheadas de gozo e contentamento. Sim, o maior êxito de Dreams In Colour é ser incansável e profusamente pop/rock – e vamos combinar que, quando bem feito, isso satisfaz o mais sedento dos fanáticos musicais.
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Texto dedicado ao B.