O Uruguaio Jorge Drexler foi revelado para os meios de comunicação de forma repentina através da indicação, e subsequente vitória, de sua composição, para o filme “Diários de Motocicleta”, para o Oscar de Melhor Canção. Quem é inteligente sabe aproveitar as oportunidades e reduzir um pouco mais a sua ignorância cultural. Visto que meus conhecimentos de música latina são irrisórios – e, por favor, não estou falando de Shakira -, aproveitei a ocasião para chafurdar a internet em busca de seu disco mais recente, e o maior responsável pela sua popularização, Eco/Eco 2.
Drexler mostrou-se, neste álbum, uma grata surpresa. Textos da internet comparam seu trabalho ao de Caetano Veloso, chamando a atenção para o uso de sutis ruídos eletrônicos. É certo que sua semelhança com o que de melhor há na MPB contemporânea salta aos ouvidos de qualquer brasileiro, mas a similiradede com a obra do mais famoso compositor baiano não é exatamente correspondente. A música de Drexler tem muito mais a ver com a poética sutil e o encantamento melódico de Adrina Calcanhotto e, em menor grau, com os últimos trabalhos de Marisa Monte. As composições do uruguaio transpiram delicadaza, classe, elegância e suavidade, tanto em seu caráter harmônico quanto lírico. A inspiração na sonoridade brasileira contemporânea fica bastante clara em “Don de Fluir”, com suave batida eletrônica e cadência deliciosa e elegante, na irresistível “Transporte”, com estupenda combinação de violões e bases eletrônicas, e na percussão macia e bem trabalhada dos versos doces de “El Monte y El Rio”. Porém, a qualidade da musicalidade de Jorge Drexler também revela-se nas sua composições de raízes mais românticas, como na reverberação algo cíclica da bela faixa-título, “Eco”, na harmonia que funde o melhor do pop com bases orquestradas e que adorna os versos de sincera sensiblidade de “Deseo”, e na linda melodia compassiva de “Todo se Transfoma”. A destreza do artista é tanta que ele conseguiu reservar espaços até para arroubos sonoros, com uso perfeito de instrumentação erudita em “Se Va, Se Va, Se Fue”, e também para demonstrar a sua habilidade como letrista nos versos de “Guitarra y Voz”, que guarda impressionante parantesco com as composições mais poéticas de Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes e também no electro-contemporanismo explícito de “Oda al Tomate”. A latinidade, claro, está presente em todas as faixas, mas é sempre algo exposto de forma tranquila e plácida, como em “Milonga Del Moro Judio” e na música ganhadora do Oscar, “Al Otro Lado Del Río”, realmente uma das poucas merecedoras da premiação, com sua letra e melodia melancólicas, ainda que perseverantes. É ouvindo todo o disco que nota-se que Drexler não força jamais sua voz, entoando suas canções com um cantar suave, calmo e aveludado, poucas vezes levantando mais sua voz, como no refrão de “Polvo De Estrellas”, música que reúne de forma sublime todos os predicados do artista: música, melodia, poesia e raízes culturais.
Sem dúvidas Jorge Drexler é daqueles poucos artistas dos quais nos orgulhamos de ter em nosso país: se sentimos imenso prazer na brasilidade pós-moderna e literária da música de Adriana Calcanhotto e na elegância popular de algumas facetas de Marisa Monte, assim deve ser com Drexler no Uruguai, ainda mais agora, depois de conquistar um dos prêmios mais cobiçados do mundo, graças ao seu convite para deixar seu registro no filme do brasileiro Walter Salles. Depois de tanto tempo sem mostrar qualquer interesse pelos novos artistas da chamada nova MPB, só me restou mesmo ampliar minha busca além de nossas fronteiras culturais e linguísticas. Ainda bem que, geralmente, consigo superar certos preconceitos e me dar ao prazer de arriscar novas experiênciais musicais. Não fosse isso estaria ainda tentando entender o que há de tão bom em Max de Castro e Luciana Mello – deus me perdoe. Baixe o álbum utilizando os links que seguem depois da lista de faixas e use a senha para descompactar os arquivos.
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