Apesar do aspecto ligeiramente mais harmonioso do que na capa de Lovetune for Vacuum, primeiro disco da austríaca Anja Plaschg, a expressão mais uma vez melancólica da garota indica que no seu segundo disco sob o pseudônimo Soap&Skin, Anja continua a decantar a dor com sutis lampejos de contentamento. A impressão que se tem ao ouvir Narrow é que desta vez a artista austríaca compôs melodias mais mais polidas e menos afeitas à experimentações com ruídos obscuros e sintetizações iluminadas, como é o caso da faixa de abertura, “Vater”, cantada em alemão: o eletronismo gótico fica restrito à sequência final da canção, já que grande parte da melodia está calcada em vocal e piano em puro virtuosismo melódico com algumas orquestrações de cordas aqui e ali para aprofundar o efeito da música. A impressão, no entanto, não corresponde exatamente à verdade, uma vez que este segundo disco da artista européia é consideravelmente menor do que o primeiro, contando com apenas oito faixas, e lida com o mesmo material melódico e emocional do primeiro: tanto em “Deathmetal” quanto em “Big Hand Nails Down”, por exemplo, temos a intensa metalurgia melódica complexa e obtusa que beira o atonal que já se tornou marca registrada da compositora, a primeira acompanhada por um órgão igualmente insólito e um vocal de múltiplas camadas de um tonalidade obscura e a segunda atravessada por um registro vocal potente e cortante. Ao mesmo tempo, há neste pequeno disco faixas com exibem a mesma faceta terna e delicada que se pode conferir no primeiro disco, caso da soturna melancolia ao piano de “Cradlesong” e de “Wonder”, que além do piano triste conta com um órgão e sintetizações sutilíssimas em harmonia algo reflexiva e vocais de apoio de um coro gospel em registro singular que subverte consideravelmente sua identidade costumeiramente sacra. Não poderia faltar uma canção que reúna todas as predileções melódicas de Anja, e esta é o single “Boat Turns Toward the Port”, que conta com piano elétrico de acordes espaçados e órgão fluído e distante sobre o singelo loop de um sample do que parece ser uma antiga caixa registradora e vocais em plena extensão harmônica, tendo como resultado uma paradoxal atmosfera contemporânea e nostálgica. E por falar em nostalgia, Narrow conta ainda com um cover do clássico do eurodance “Voyage Voyage”, faixa da francesa Desireless que foi um dos marcos do pop dançante borbulhante de sintetizadores que embalou Europa e recantos do Brasil no final dos anos 80 e início dos 90. A versão da austríaca, claro, é embebida em seu soturnismo particular, transmutada em piano, orquestração de cordas e vocais encobertos de amargura, mas também preserva e transforma em sua a melancolia que a faixa já detinha originalmente. Ao que parece, Anja não consegue resistir esquadrinhar a tristeza mesmo quando envereda pelos cânones do pop – e espero que ela não deixe de fazê-lo tão cedo.
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