Nascida na Suécia, Frida Hyvönen é mais uma entre várias cantoras européias que demonstram imenso talento já no início de sua carreira. Depois de sua elogiada estréia em 2005 e do projeto especial para um grupo de dança, seu álbum Silence is Wild revelou os traços de sua música de forma ainda mais complexa. Não me refiro simplesmente a dificuldade em definir onde algumas de suas melodias guiadas por piano se encaixam, cujas exemplos são as faixas “Enemy Within”, que recheada de múltiplos vocais de fundo que dialogam com o vocal principal em versos como ‘be kind and fight at the same time/one too many things to keep track of’ tem andamento que não se permite rotulações, e a esplêndida “Birds”, cuja melodia introduzida por baixo, conduzida por órgão e sintetizador para embalar letras que se servem dos pássaros migratórios para divagar sobre a passagem da vida e o que fazemos dela tem uma sutil singeleza pop, mas é por demais sofisticada para ser acomodada como tal. A complexidade que me refiro nasce na rara habilidade da cantora entregar-se ao canto sem comedimento emocional ao mesmo tempo em que consegue administrar esta abordagem mais emotiva de modo a jamais resvalar na pieguice ou exagero. É o que acontece já na faixa de abertura, “Dirty Dancing”: com um piano lacrimoso embalando a bateria, a sueca desmancha os versos em uma confissão tocante sobre uma paixão de infância que, ao reencontrar na vida adulta, mostra como nossas expectativas sobre o futuro são frustradas, para o bem ou para o mal. Lamentações de um romance em crise preenchem as notas de piano de duas faixas próximas: “Highway 2 U”, na qual o piano triste acompanha a bateria que alterna discrição e drama enquanto Frida se desfaz em um vocal de fazer sangrar mesmo os corações mais duros, e “Science”, em cujos versos temos o rompimento de uma relação onde o excesso de lógica e ponderação de uma de suas partes faz ruir toda a paixão. Contudo, a artista sueca, que se dá ao direito de brincar com o estereótipo de seu povo na surpreendente explosão de alegria de “Scandinavian Blonde”, com direito à pianos e bateria em ritmo frenético e dançante, não tem pena do coração de seus fãs. Quanto mais à frente se vai no disco, mais variadas e profundas são as emoções com as quais a cantora e compositora lida. Com uma combinação esplendorosa de vocais encobertos de emoção com melodias sofridas e delicadas, temos desde “December”, na qual Frida apresenta um piano de melodia lúdica e quase infantil apenas para denunciar o quanto a narrração irônica da visita de um casal à uma clínica de abortos disfarça a dor da situação, passamos pela poesia impressionante nas letras de “Sic Transit Gloria”, que flutua como uma ode à pequenez humana em meio à grandeza da vida e do mundo, até chegarmos à simplicidade de “Why Do You Love Me So Much”, com pouco mais que piano e xilofone para emoldurar os versos plenos de sarcasmo onde a partir do título a cantora confessa sua surpresa em ser amada por alguém apesar de toda a sua displicência afetiva. Curiosamente, Frida tem por hábito compor homenagens carinhosas à cidades que por ventura tenha visitado. Neste álbum, duas foram agraciadas com belas canções: “London!” na qual a cantora, entre observações sobre como o clima pouco atraente e os modos curiosos de seus habitantes podem parecer afastá-lo da cidade, mas são justamente o que mais atraem nela, e “Oh Shangai”, balada com vocais impecavelmente emocionantes onde piano e bateria sincopada levantam-se em um crescendo emocionante que ganha ao final a companhia de uma instrumentação mais encorpada, porém inequivocamente doce, que faz referência à musicalidade chinesa.
Fabuloso compêndio recheado de baladas melancólicas cuja sinceridade irônica de alguns versos pode soar estranha no início, Silence is Wild é um disco que à medida que mais se ouve, mais se descobre sua fustigante beleza poética e incomensurável profundidade, tanto melódica quanto lírica. Poucos cantores ou cantoras tem a coragem de derramar-se em sentimento, e menos ainda são os que tem a segurança de que podem fazê-lo sem jamais perder a elegância – Frida Hyvönen é inequivocamente uma delas.
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