Taylor Kirk, cantor e compositor canadense que é a ponta criativa do triângulo que compõe a banda Timber Timbre, cujos outros vértices são Mika Posen e Simon Trottier, poderia bem ganhar a vida como intérprete de grandes clássicos do blues por conta de sua voz grave e macia, e nota-se facilmente o quanto o gênero influenciou suas composições, particularmente no seu último disco, Creep On Creepin’ On. Além da própria carga que existe em seu vocal, aquele vapor melancólico e nostálgico do blues também acaba contaminando boa parte das melodias. O piano de notas agudas e cristalinas que estala no ar em “Bad Ritual” é exemplo claro disto, há porém a companhia de algumas orquestrações e eletronismos lo-fi que lhe conferem também uma sonoridade bastante soturna. Esta atmosfera também circunda os acordes do piano, as inserções pontuais do saxofone e o órgão empoeirado de “Black Water”, conferindo à canção ares de balada de salão de festas de um hotel mal-assombrado. O saudosismo ganha um requebro mais dançante na cadência de teen party sessentista de “Too Old To Die Young”, que parece saída diretamente de um momento mais inspirado em que Chris Isaak incorpore o seu Elvis. A impressão no início desta faixa é que o ar sinistro possa ter ficado pra trás, mas a sensação evapora rapidamente quando o refrão soturno ataca sem hesitar a melodia. Esse caráter musical que desenha referências na música de meados do século passado floresce igualmente na faixa “Woman”, mas o obscurantismo dark não deixa de se fazer presente, insidioso e lembrando muito o trabalho dos britânicos do Portishead: impossível não fazer referência à biologia melódica do grupo inglês na intro que funde metais, guitarras e bateria em uma marcação aquosa de filme de ficção-científica tanto quanto no modo como isso é repentinamente revertido em uma singela harmonia tradicional em piano, vocal, baixo e bateria.
O parentesco de Timber Timbre com músicas de antigos filmes de sci-fi e terror não fica apenas na fusão feita com melodias que tem algo da boemia de um cabaret ou salão de festas de um hotel cinco estrelas, mas é exibido em toda sua intensidade na tecitura das faixas instrumentais que pontuam de modo dramático o disco assim como sequências de um filme são pontuados por sua trilha. Assim funcionam “Obelisk”, com o suspense armado pelo arranjo de cordas sobre um pulso ininterrupto da bateria e ruídos que rompem a melodia e reforçam o clima espectral, e “Swamp Magic”, que apesar do obscurantismo inicial nos acordes escandidos no violão, na ondulação das cordas e nas interferências indistintas, é banhada por uma luz orquestral em sua sequência final. Contudo, o mais belo interlúdio cinemático é o de “Souvenirs”: uma reverberação de cordas fulgurante que é reminescente das esplêndidas peças eruditas do hiper-vanguardista György Ligeti que sonorizaram a espetacular obra-prima “2001: Uma Odisséia no Espaço”, fechando no modo “egotrip transcendental” o singular setlist que cairia muito bem em uma festa – mas só naquela cuja anfitriã fosse Carrie White.
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