Por culpa do infernal emprego e de outros afazeres aos quais decidi me dedicar este ano, abandonei quase completamente o hábito de assistir videoclipes e curtas-metragem para priorizar a continuidade das postagens de filmes e música – e, por consequência, o tópico “vídeos” no seteventos.org parou no tempo.
No entanto, férias é um período abençoado e exatamente um ano depois que postei o último texto sobre vídeo no blog estou tentando retomar e manter novamente o prazer de garimpar a internet em busca dessas produções. E a web não decepciona: em algumas horinhas já encontrei duas produções bacanérrimas – na verdade duas versões de videoclipe para a mesma música.
Antes de qualquer coisa, vamos à música em si. “Antibodies”, do quinteto francês Poni Hoax, é um desatino que bebe direto na fonte da disco dos anos 70, aproveitando o que havia de escandalosamente glamouroso na sonoridade da época sem medo de soar esgaçadamente retrô com suas sintetizações cintilantes, violinos e pratos pontuando de modo dramático a melodia, mas seus riffs matadores de guitarra e seu vocal lhe concedem uma verve pop-cinematográfica escancarada que a aproxima muito mais da música dançante do New Order e Depeche Mode dos anos 80 do que daquela composta pelo Bee Gees, por exemplo. E por falar no vocal, ele é o verdadeiro glacê desse bolo delicioso: a voz de Nicolas Ker tem o timbre da de Jim Morrison, mas é como se o vocalista do The Doors estivesse possuído por uma pomba-gira discotequeira diante do microfone. Mas não tema: é justamente esse cantar altivo e petulante que confere muita elegância à esta música absolutamente intoxicante – um diferencial enorme em meio à esse vai-e-vem da nostalgia pop que já virou rotina.
E para ilustrar essa música que utiliza como referência a sonoridade de uma época cuja estética foi e é tão explorada, foram feitos dois vídeos que tomam caminhos bem distintos. Para o fotógrafo e diretor francês que atende pelo pseudônimo Danakil, “Antibodies” serviu como inspiração para abordar uma narrativa abstrata, onde uma aeromoça nua em um quarto de hotel de aeroporto lida com o dilema de sua gravidez enquanto tateia languidamente um peixinho ornamental e brinca com as sensações provocadas por uma agulha. Enquanto isso, lá fora, uma bolha de sabão de enormes proporções vagueia sem rumo pelo aeroporto vazio. A despeito do peixinho sem fôlego, que é mesmo uma maldade, o vídeo é de uma imensa beleza plástica, tudo graças a linda modelo que empresta-se ao papel da aeromoça e a fotografia de Danakil, que confere muita classe ao filme.
Já para a também fotógrafa Maria Ziegelböck, austríaca radicada na França, as referências musicais contidas na melodia pulsaram mais forte: o vídeo por ela preparado é um compêndio de sequências com anônimos deixando seus corpos serem levados pelo ritmo saboroso da canção em uma pista iluminada por alguns spots de luz. Sem dúvidas que lembra a icônica sequência de “Flashdance”, mas isso não reduz as qualidades desta versão, muito bem filmada e editada.
Então é só conferir os vídeos, seja em streaming ou para download – e como eu achei a faixa divertidíssima, também a ofereço para download em mp3.
“Antibodies” – dir. Danakil: Youtube (assista) – download
“Antibodies” – dir. Maria Ziegelböck: LastFM (assista) – download