Uma multinacional perde contrato de exploração de pretóleo em país do Oriente Médio, em detrimento de uma outra empresa chinesa, e trata logo de iniciar uma fusão com pequena indústria que acaba de adquirar direitos de exploração no Cazaquistão. Enquanto isso, um agente da CIA tenta descobrir as implicações do sumiço de um artefato bélico, ao mesmo tempo que um especialista em assuntos de energia e dois garotos que trabalhavam como imigrantes vêem-se implicados pelas consequências de suas novas relações.
Stephen Gaghan foi o responsável pelo roteiro primoroso e tenso de “Traffic”, dirigido por Steven Soderbergh em 2000. Em, “Syriana”, onde Stephen resolveu também se encarregar da direção, a sua habilidade como escritor de estórias complexas e intrincadas mostra-se ainda muito afiada. Alguns críticos, com certa razão, consideraram que este filme peca justamente pela complexidade excessiva do roteiro: devido à simultaneidade dos inúmeros acontecimentos sócio-políticos, de suas consequências e de seus eventos inter-relacionados – muitas vezes de maneira pouco evidente – o expectador acaba quedando-se confuso, sendo inevitável rever mais de uma vez algumas cenas – o que me leva a pensar que o cinema não teria sido o ambiente ideal de vislumbração deste longa-metragem. Porém, apesar deste aspecto negativo da natureza do roteiro e, portanto, do filme, o argumento de “Syriana” é de modo geral excelente, devido à abordagem ousada, explícita e sincera dos reveses do capitalismo predatório, tratando especialmente do modo como esta prática é utilizada pela nação mais rica e poderosa do mundo: as consequências geo-políticas, econômicas e sociais dos atos do governo americano e de seus bilionários conglomerados financeiros são muito bem retratados na relação e razão de um evento sobre o outro no filme, mesmo que, em alguns monentos, isso seja feito correndo o risco de confundir o espectador em algum nível. Este não é nunca um filme de arroubos ou peripécias técnicas e artísticas: direção, fotografia, trilha sonora, produção e elenco resumem-se a cumprir o seu papel, fazendo-o bem mas sem qualquer merecimento ao destaque de algum deles. Isso revela claramente que é a metade roteirista do agora diretor Gaghan que sobressai de maneira vistosa, tornando o seu trabalho atrás das câmeras até desnecessário – um bom roteiro seu, nas mãos de um diretor ainda melhor e mais inventivo, poderia gerar um filme ainda mais impactante. Porém, isso que estou dizendo pode ser bobagem: apesar dos excelentes achados técnicos de “Traffic” não ofuscarem o roteiro brilhante de Stephen, sempre corre-se o risco de que a má utilização destes eclipsem ou até mesmo destruam o argumento do longa-metragem. Assim sendo, é melhor mesmo deixar os roteiros de Gaghan serem empacotados em embalagens simples – desta forma teremos mais garantias de um filme que se contenta em ter uma estória inteligente, audaciosa e reflexiva, o que basta, e muito bem, pra qualquer cinéfilo assumido.
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